Dora Kramer
Mesmo entre os inicialmente mais entusiasmados no PT com
o plano do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, já começa a subir às
gargantas o gosto amargo do arrependimento e a tomar conta dos espíritos
a certeza de que amigo foi quem avisou.
(...)
Na CPMI criada com objetivo primeiro implícito e depois tornado
explícito de "desmascarar" os autores "da farsa do mensalão", o
inesperado vem proporcionando reiteradas surpresas ao partido.
Nada tem saído de acordo com o roteiro original.
A previsão era desqualificar o trabalho investigativo da imprensa
(revista Veja em particular), embaraçar o Supremo Tribunal Federal à
proximidade do julgamento do processo qualificado como farsesco, levar
ao patíbulo o procurador-geral da República, que em suas alegações
finais acrescentou veemência à denúncia feita pelo antecessor.
(...)
E o que PT conseguiu até agora? Da meta, só a convocação do
governador de Goiás, mas ao preço de ver um governador do partido
(Agnelo Queiroz, do DF) também chamado à CPMI para dar explicações.
O procurador saiu do foco por força do impedimento legal de conjugar o
papel de testemunha à função de investigador.
A imprensa deixou de ser
alvo quando os delegados responsáveis pelos inquéritos que originaram a
comissão atestaram a natureza estritamente profissional das conversas
entre a Veja e Carlos Augusto Ramos, o Cachoeira.
O intuito de constranger o Judiciário, se de um lado feriu a imagem
do Supremo, de outro levou os magistrados a se manifestarem em defesa da
máxima celeridade possível ao julgamento do mensalão.
As parcerias não se mostraram firmes como o pretendido - ao
contrário, movimentaram-se ao ritmo de cada um por si conforme as
circunstâncias - e acabou sendo requerida a quebra dos sigilos da Delta
em âmbito nacional.
Resultado: está aberto o espaço para a entrada do governo federal na
dança, uma vez que a Delta é a principal empreiteira das obras do PAC, ...
Na relação de perdas por enquanto sem ganhos, podem-se incluir ainda
dois desgastes: a explicitação da aliança com Fernando Collor e o
flagrante da mensagem enviada pelo deputado Cândido Vaccarezza ao
governador Cabral, sugerindo a oferta (na realidade, sem lastro) de
salvaguardas.
Um passivo considerável a ser administrado pelo PT na tentativa de
recomposição da maioria, cujo saldo para o partido por enquanto é
negativo. Não obstante, por isso mesmo, possa vir a ser extremamente
positivo para aquilo que no papel se propôs a fazer a CPMI.
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