segunda-feira, 4 de junho de 2012

Efeito colateral

Dora Kramer

Mesmo entre os inicialmente mais entusiasmados no PT com o plano do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, já começa a subir às gargantas o gosto amargo do arrependimento e a tomar conta dos espíritos a certeza de que amigo foi quem avisou.
(...)

Na CPMI criada com objetivo primeiro implícito e depois tornado explícito de "desmascarar" os autores "da farsa do mensalão", o inesperado vem proporcionando reiteradas surpresas ao partido.
Nada tem saído de acordo com o roteiro original.

A previsão era desqualificar o trabalho investigativo da imprensa (revista Veja em particular), embaraçar o Supremo Tribunal Federal à proximidade do julgamento do processo qualificado como farsesco, levar ao patíbulo o procurador-geral da República, que em suas alegações finais acrescentou veemência à denúncia feita pelo antecessor.
(...)

E o que PT conseguiu até agora? Da meta, só a convocação do governador de Goiás, mas ao preço de ver um governador do partido (Agnelo Queiroz, do DF) também chamado à CPMI para dar explicações.

O procurador saiu do foco por força do impedimento legal de conjugar o papel de testemunha à função de investigador.

A imprensa deixou de ser alvo quando os delegados responsáveis pelos inquéritos que originaram a comissão atestaram a natureza estritamente profissional das conversas entre a Veja e Carlos Augusto Ramos, o Cachoeira.

O intuito de constranger o Judiciário, se de um lado feriu a imagem do Supremo, de outro levou os magistrados a se manifestarem em defesa da máxima celeridade possível ao julgamento do mensalão.

As parcerias não se mostraram firmes como o pretendido - ao contrário, movimentaram-se ao ritmo de cada um por si conforme as circunstâncias - e acabou sendo requerida a quebra dos sigilos da Delta em âmbito nacional.

Resultado: está aberto o espaço para a entrada do governo federal na dança, uma vez que a Delta é a principal empreiteira das obras do PAC, ...

Na relação de perdas por enquanto sem ganhos, podem-se incluir ainda dois desgastes: a explicitação da aliança com Fernando Collor e o flagrante da mensagem enviada pelo deputado Cândido Vaccarezza ao governador Cabral, sugerindo a oferta (na realidade, sem lastro) de salvaguardas.
Um passivo considerável a ser administrado pelo PT na tentativa de recomposição da maioria, cujo saldo para o partido por enquanto é negativo. Não obstante, por isso mesmo, possa vir a ser extremamente positivo para aquilo que no papel se propôs a fazer a CPMI.

Íntegra  AQUI.

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