A vingança
maligna de Maluf
Perto das imagens
que estavam ontem na primeira página dos principais jornais do País, o fato de o
PT de Lula ter ido buscar o apoio do PP de Paulo Maluf à candidatura do
ex-ministro da Educação Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo chega a ser
uma trivialidade. O chocante, pela abjeção, foi o líder petista se dobrar à
exigência de quem ele já chamou de “ave de rapina” e “símbolo da pouca-vergonha
nacional”, indo à sua casa em companhia de Haddad, e posar em obscena
confraternização, para que se consumasse o apalavrado negócio eleitoral.
(...)
Nos jardins
malufistas da seleta Rua Costa Rica, anteontem, o campeão brasileiro de
popularidade capitulava diante não só de sua bête noire de tempos idos, mas
principalmente da patologia da sua maior obsessão: desmantelar o reduto tucano
em São Paulo, primeiro na capital, na disputa deste ano, depois no Estado, em
2014, para impor a hegemonia petista ao País com a reeleição da presidente Dilma
ou - por que não? - a volta dele próprio ao Planalto, “se a Dilma não quiser”.
Lula não é o único a acreditar que, em política, pecado é perder. Mas foi o
único a dizer, em defesa das alianças profanas que fechou na Presidência, que,
se viesse a fazer política no Brasil, Jesus teria de se aliar a
Judas.
Não se trata,
portanto, de ficar espantado com a disposição de Lula de levar a limites
extravagantes o credo de que os fins justificam os meios. O que chama a atenção
é a sua confiança nos superpoderes de que se acha detentor, graças aos quais,
imagina, conseguirá dar a volta por cima na hora da verdade, elegendo Haddad e
sufocando a memória da indecência a que se submeteu. Não parece passar por sua
cabeça que um número talvez decisivo de eleitores possa preferir outros
candidatos, não pelo confronto de méritos com o petista, mas por repulsa à
genuflexão de seu patrono perante a figura que representa o que a política
brasileira tem de pior.
Lula talvez não se
dê conta de que a maioria das pessoas não é como ele: respeita quem se respeita
e despreza os que se aviltam, ainda mais para ganhar uma eleição.
(...)
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