O Estado de S.Paulo
Certos dados do PIB do primeiro trimestre do ano deixaram
dúvidas - tanto alguns que ficaram acima das expectativas quanto outros
que se apresentaram anormalmente baixos. Sem esquecer de que são
resultados com ajuste sazonal, o que pode gerar surpresa em alguns
setores.
O crescimento de 1,9% da indústria de transformação parece não
coincidir com os dados divulgados pelo IBGE da produção industrial em
volume, de uma queda de 3%.
Na realidade, no primeiro trimestre, em
função da política de estímulo ao consumo do governo, houve uma grande
desova de estoques das empresas (especialmente automóveis e linhas
brancas), contabilizada como produção. Convém notar uma anomalia: o
forte aumento do valor acrescido na indústria (1,7%), enquanto nos três
trimestres anteriores o valor acrescido era negativo. É possível que a
causa desse aumento possa ter sido a venda de bens produzidos no Brasil,
e não de produtos importados que não tiveram os incentivos fiscais.
O consumo das famílias permaneceu igual ao do trimestre anterior
(aumento de 1%), o que leva a crer que os incentivos ao consumo não
tiveram grande efeito sobre os gastos, apesar de uma melhoria da renda. Podemos atribuir esse fato a um maior endividamento das famílias, que
adquiriram imóveis, ou que, com melhor rendimento, compraram mais à
prestação. Por outro lado, registra-se um aumento significativo do
consumo da administração pública que pode ser atribuído aos efeitos do
aumento, desde janeiro, de 14% do salário mínimo.
A queda na Formação Bruta de Capital Fixo, de 18,8% do PIB neste
trimestre, ante 19,3% no mesmo trimestre de 2011, é certamente o
resultado mais preocupante das Contas Nacionais. Explica-se, em parte,
pela redução dos investimentos das empresas, de um lado, por comprarem
produtos importados a um preço menor e, de outro, pela falta de demanda
interna. No entanto, da parte de um governo que se proclama keynesiano,
era de esperar que sua contribuição para os investimentos na
infraestrutura fosse maior. Isso, naturalmente, exigiria uma redução dos
gastos de custeio, como também mais eficiência em levar adiante a
execução dos projetos.
A queda da produção agropecuária de 7,3% deveu-se principalmente a
problemas climáticos, mas seria bom saber que efeito tiveram os cortes
do orçamento da Embrapa nessa violenta redução. O governo tem sua parte
de culpa nos resultados do PIB, que afetarão os trimestres seguintes.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário