O governo divulgou
recentemente uma nova definição de classe média, patamar no qual as famílias já
teriam superado sua vulnerabilidade social, ou seja, já teriam suas
necessidades básicas atendidas e teriam acesso ao mundo do consumo.
Segundo a Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência, 48% da população se encontra na classe
média, enquanto somente 15% da população continua na classe baixa.
Os critérios que levaram o
governo a decretar que a partir de R$ 291 de renda familiar per capita as
pessoas não são mais pobres é algo um tanto obscuro.
Segundo a SAE, esse grupo já
não mais seria vulnerável a retornar ao estado de pobreza. Essa renda é muito
baixa para ser considerada de classe média.
Para o Dieese, o salário
mínimo do trabalhador no país deveria ter sido de R$ 2.383,28 em maio a fim de
suprir as necessidades básicas de uma família formada por 2 adultos e 2
crianças. Isso daria uma renda per capita de R$ 595,82.
Com essa renda, segundo a
SAE, a família já nem seria de classe média baixa, já estaria na média classe
média. O governo do PT encontrou a fórmula mágica de acabar com a pobreza,
basta decretar que as pessoas não são mais pobres.
A mera aquisição de bens de
consumo não pode ser considerada como superação da pobreza. Pesquisa da
socióloga Cláudia Sciré, autora do livro "Consumo popular, fluxos
globais" mostra que o fenômeno atual é uma "financeirização da
pobreza" e não a efetiva ascensão de uma nova classe média.
Na verdade, a possibilidade
de crédito fácil permitiu o acesso a bens de consumo. No entanto, essas
famílias, por exemplo, ainda não possuem uma educação de qualidade e são
dependentes dos deficientes serviços de saúde prestados pelo Estado.
Retrato disso é o endividamento
das famílias. Segundo a Confederação Nacional do Comércio, o percentual de
famílias com contas ou dívidas em atraso apresentou alta pelo quarto mês
consecutivo em maio, alcançando 23,6% em maio de 2012, ante 23% em abril de
2012.
O percentual de famílias que
declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso também
se elevou de 6,9% em abril para 7,8% em maio.
O endividamento dessa
"classe média" com renda tão baixa é preocupante porque pode
ocasionar a perda de capacidade de suprir suas necessidades básicas, como
alimentação. As pessoas possuem TV de tela plana comprada em 30 prestações, mas
têm dificuldade de pagar o supermercado do mês. Estão ou não em situação
vulnerável?
Essa euforia consumista das
classes mais baixas de nossa estrutura social é o legado que nos deixou a
política econômica do governo Lula (continuada no governo Dilma) para contornar
a mais profunda crise econômica que o capitalismo vivencia desde o crash da
bolsa, em 1929.
Ao incentivar e incrementar
o consumo sem atentar para o necessário lastro na renda da população, o governo
conseguiu somente criar uma pobreza endividada e ainda mais vulnerável.
Uma vida confortável e
feliz, sonho de todos, não será fruto de "milagres", mas de políticas
públicas consistentes e baseadas nas reformas estruturais que o país precisa e
que este governo sempre se eximiu de promover.
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Este
artigo foi originalmente publicado no jornal Brasil Econômico em 08.06.2012
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