Delta tinha a ficha suja desde 2010 segundo o próprio governo federal; no entanto, BNDES continuou a emprestar dinheiro à empresa com juros subsidiados.
Que país!
Há coisas
realmente notáveis em Banânia quando a gente junta lé com lé, cré com
cré.
Reportagem de hoje do Estadão indica que a Delta — sim, a Delta! —
recebeu R$ 139 milhões em financiamento do BNDES entre 2010 e 2011 — R$
75,1 milhões só no ano passado.
Aí o leitor exigente, que deve ser
sempre severo com o analista ou o colunista, tem de perguntar:
“E daí,
Reinaldo? O que isso tem de errado? Ninguém sabia ainda que a empresa
estava envolvida nessa sujeirada!”. Então vamos ver.
Há uma
questão de fundo, claro!, nessa história toda: “Pra que serve, afinal de
contas, o BNDES?, a Mamãe Gansa do capitalismo de estado no Brasil?”.
Mas isso deixo para daqui a pouco. Quero me fixar em outro aspecto, que é
um escândalo por si mesmo e deveria chamar, por óbvio, a atenção do
Ministério Público.
Em 2010, a
Operação Mão Dupla, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da
União, constatou que a Delta estava envolvida em um monte de falcatruas:
fraudes em licitações, superfaturamento, desvio de verbas, pagamentos
de propina, pagamentos indevidos e uso de material de qualidade inferior
ao contratado em obras de infraestrutura rodoviária sob o comando do
Dnit. Havia outras 11 empresas no rolo.
É uma coisa
fabulosa! Mesmo com a Controladoria-Geral da União tendo em mãos o
currículo da Delta — e a CGU é um órgão diretamente ligado à Presidência
da República —, a empreiteira assinou com o governo 31 novos contratos,
no valor de R$ 758 milhões. E agora ficamos sabendo que isso ainda era
pouco. O BNDES concedia generosos empréstimos a uma empresa pega fazendo
pilantragem.
Vocês
certamente sabem o que quer dizer o “S” em “Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social”! Por que um banco de fomento
precisaria financiar uma construtora que não realiza investimentos de
longo prazo, não busca inovação tecnológica, não está envolvida numa
atividade de infraestrutura com prazo longo de retorno? Há muito o BNDES
virou a caixa-preta do capitalismo de estado no Brasil, que vai
elegendo, segundo os ventos da política, seus ganhadores e perdedores.
O Tesouro
capta dinheiro no mercado com os juros da taxa Selic, injeta no BNDES,
que o empresta a alguns eleitos com taxa subsidiada. O conjunto dos
brasileiros arca com a diferença.
A Delta, com a sua ficha suja desde
2010, não só continuou a celebrar contratos com o governo federal como
estava na lista dos aquinhoados pelo bolsa-juro do BNDES. Parte da
dinheirama servia para financiar uma impressionante rede de corrupção.
Tem de chamar
Com a ficha que tinha, constatada pela Operação Mão Dupla, a Delta jamais poderia ter continuado a celebrar contratos com o governo; receber financiamento do BNDES, então, é um escárnio.
Com a ficha que tinha, constatada pela Operação Mão Dupla, a Delta jamais poderia ter continuado a celebrar contratos com o governo; receber financiamento do BNDES, então, é um escárnio.
Há muito o
ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União, deveria ter sido
convocado pela CPI.
Ele precisa dizer quais providências foram tomadas
na sua esfera de competência para advertir a máquina pública de que uma
das empresas contratadas por órgãos federais estava roubando o dinheiro
dos brasileiros.
Também Luciano Coutinho, presidente do BNDES, tem de
ser chamado.
Eu sou quase tentado a propor uma CPI só para o banco:
quais são os critérios que a instituição leva em conta ao conceder um
empréstimo?
Os órgãos de investigação do governo são ao menos chamados a
dizer se existe alguma pendência que diga respeito ao beneficiário da
mamata — digo, do “financiamento”?
Todos os
contratos celebrados por órgãos de estado com a Delta depois da Operação
Mão Dupla são essencialmente imorais e suspeitos por sua própria
natureza.
PS — Pergunta: as outras 11 empresas flagradas na “Operação Mão Dupla” continuam a fazer negócios normalmente com o governo federal? Algo a se verificar.
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