Márcio Thomaz Bastos lutou pela democracia na ditadura e luta por ditadura na democracia. Ou: Bastos pressiona o Supremo!
Por Reinaldo Azevedo
O
advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, aderiu, no sábado
à noite, à campanha contra a imprensa promovida pelo PT desde 2003,
intensificada depois que veio à luz o escândalo do mensalão, em 2005, e
tornada grito de guerra com a CPI do Cachoeira.
(...)O que fez Bastos, que é advogado de um dos 38 réus do mensalão?
No programa “Ponto a Ponto”, da BandNews, no sábado,
afirmou que a imprensa “tomou partido” contra os réus e tenta
influenciar os ministros do Supremo com “publicidade opressiva”. Acusou
ainda a imprensa de elevar “a um ponto muito forte o mensalão que vai
ser julgado, deixando de lado os outros mensalões”.
É uma fala
indecorosa para o advogado que teve influência importante na indicação
de pelo menos 8 dos 11 ministros do Supremo. E isso quer dizer, como vou
demonstrar também, que Bastos parece considerar ilegítimo o trabalho da
imprensa, mas legítima a pressão que ele próprio está fazendo sobre os
ministros.
Note-se, de
saída, que o ex-ministro da Justiça, petista de escol, conselheiro de
todas as horas de Lula e hoje advogado de Carlinhos Cachoeira, está
repetindo as palavras de José Dirceu no encontro da Juventude Socialista. no mesmo sábado.
(...)
“Cometeu um crime, sim, mas não esse que dizem, outro”.
Ou ainda:
“Cometeu o crime, sim, mas é preciso ver que as circunstâncias…”
Um constitucionalista tende a lidar com essencialidades; um criminalista é, antes de tudo, um pragmático. Num governo petista, saber lidar de modo pragmático com ações criminosas é uma exigência profissional.
Intimidação
Bastos está tentando intimidar o trabalho da imprensa e do Supremo... O objetivo é despertar nas redações uma exigência ética, a saber: garantir aos mensaleiros o direito ao “outro lado”, como se cada reportagem que se fez e se faz a respeito desde 2005 não comportasse a versão dos acusados.
Bastos está tentando intimidar o trabalho da imprensa e do Supremo... O objetivo é despertar nas redações uma exigência ética, a saber: garantir aos mensaleiros o direito ao “outro lado”, como se cada reportagem que se fez e se faz a respeito desde 2005 não comportasse a versão dos acusados.
Cria-se uma acusação falsa — a do suposto
linchamento — para tentar induzir uma resposta que transforme aqueles
episódios numa guerra de versões.
Muitos farão
gostosamente o que Bastos quer. Outros, inocentes ou tontos, cairão no
truque de maneira miserável, a ponto de descaracterizar o tal “outro
lado”.
Atenção! Ouvir as explicações das personagens envolvidas numa
notícia não muda a natureza dos fatos. Aproveito aqui para chamar a
atenção de vocês, desde já, para uma questão relevante: AINDA
QUE OS 38 ACUSADOS VENHAM A SER ABSOLVIDOS DAS ACUSAÇÕES CRIMINAIS — E
NÃO COLOQUEM ISSO NA CONTA DAS COISAS IMPOSSÍVEIS, PORQUE NÃO É — ISSO
NÃO SIGNIFICARÁ QUE AQUILO A QUE SE CHAMOU MENSALÃO NUNCA TERÁ EXISTIDO.
(...)
Cinismo
A acusação de Bastos, ecoando a de Dirceu, tem, ademais, um aspecto de escandaloso cinismo. Como nunca antes na história destepaiz, o dinheiro público — da administração direta e das estatais — financia blogs, sites e revistas cuja tarefa é agredir o Supremo, a Procuradoria-Geral da República, a oposição e a imprensa independente. E se trata de uma ação que não encontra limite nem no crime: a difamação é empalidecida pela injúria, e ambas perdem para a calúnia.
A acusação de Bastos, ecoando a de Dirceu, tem, ademais, um aspecto de escandaloso cinismo. Como nunca antes na história destepaiz, o dinheiro público — da administração direta e das estatais — financia blogs, sites e revistas cuja tarefa é agredir o Supremo, a Procuradoria-Geral da República, a oposição e a imprensa independente. E se trata de uma ação que não encontra limite nem no crime: a difamação é empalidecida pela injúria, e ambas perdem para a calúnia.
Não existe
nada parecido em nenhum estado democrático do mundo. E, nesses veículos,
à diferença do que se vê na imprensa criticada por Bastos, não existe
espaço para o contraditório. O que se faz é o proselitismo mais
descarado, mais abjeto, mais servil.
ATENÇÃO! Não se trata de uma visão
alternativa àquela da chamada grande imprensa. Trata-se do uso do
dinheiro público para fazer a defesa de um partido.
A maior parte da
receita das empresas jornalísticas tem origem no setor privado. Aquela
gente faz outra coisa: apropria-se de recursos públicos — que a todos
pertencem, petistas e não-petistas — para defender… petistas!
Que o
Ministério Público jamais tenha se interessado por isso, eis um fato por
si mesmo escandaloso.
Mais AQUI.
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