segunda-feira, 11 de junho de 2012

Prendam a imprensa e deixem José Dirceu solto!

Márcio Thomaz Bastos lutou pela democracia na ditadura e luta por ditadura na democracia. Ou: Bastos pressiona o Supremo!


O advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, aderiu, no sábado à noite, à campanha contra a imprensa promovida pelo PT desde 2003, intensificada depois que veio à luz o escândalo do mensalão, em 2005, e tornada grito de guerra com a CPI do Cachoeira. 
(...)

O que fez Bastos, que é advogado de um dos 38 réus do mensalão? 
No programa “Ponto a Ponto”, da BandNews, no sábado, afirmou que a imprensa “tomou partido” contra os réus e tenta influenciar os ministros do Supremo com “publicidade opressiva”. Acusou ainda a imprensa de elevar “a um ponto muito forte o mensalão que vai ser julgado, deixando de lado os outros mensalões”. 

É uma fala indecorosa para o advogado que teve influência importante na indicação de pelo menos 8 dos 11 ministros do Supremo. E isso quer dizer, como vou demonstrar também, que Bastos parece considerar ilegítimo o trabalho da imprensa, mas legítima a pressão que ele próprio está fazendo sobre os ministros.

Note-se, de saída, que o ex-ministro da Justiça, petista de escol, conselheiro de todas as horas de Lula e hoje advogado de Carlinhos Cachoeira, está repetindo as palavras de José Dirceu no encontro da Juventude Socialista. no mesmo sábado.  
(...)

Ora, meus caros, não é por acaso que Lula nomeou para a Justiça não um advogado constitucionalista, mas um advogado… criminalista! Na impossibilidade de declarar a plena inocência de seus clientes, sua estratégia de sempre é a chamada redução de danos: 

“Cometeu um crime, sim, mas não esse que dizem, outro”. 
 Ou ainda: 
“Cometeu o crime, sim, mas é preciso ver que as circunstâncias…” 

Um constitucionalista tende a lidar com essencialidades; um criminalista é, antes de tudo, um pragmático. Num governo petista, saber lidar de modo pragmático com ações criminosas é uma exigência profissional.

Intimidação
Bastos está tentando intimidar o trabalho da imprensa e do Supremo... O objetivo é despertar nas redações uma exigência ética, a saber: garantir aos mensaleiros o direito ao “outro lado”, como se cada reportagem que se fez e se faz a respeito desde 2005 não comportasse a versão dos acusados. 

Cria-se uma acusação falsa — a do suposto linchamento — para tentar induzir uma resposta que transforme aqueles episódios numa guerra de versões.

Muitos farão gostosamente o que Bastos quer. Outros, inocentes ou tontos, cairão no truque de maneira miserável, a ponto de descaracterizar o tal “outro lado”. 
Atenção! Ouvir as explicações das personagens envolvidas numa notícia não muda a natureza dos fatos. Aproveito aqui para chamar a atenção de vocês, desde já, para uma questão relevante: AINDA QUE OS 38 ACUSADOS VENHAM A SER ABSOLVIDOS DAS ACUSAÇÕES CRIMINAIS — E NÃO COLOQUEM ISSO NA CONTA DAS COISAS IMPOSSÍVEIS, PORQUE NÃO É — ISSO NÃO SIGNIFICARÁ QUE AQUILO A QUE SE CHAMOU MENSALÃO NUNCA TERÁ EXISTIDO
(...)

Cinismo
A acusação de Bastos, ecoando a de Dirceu, tem, ademais, um aspecto de escandaloso cinismo. Como nunca antes na história destepaiz, o dinheiro público — da administração direta e das estatais — financia blogs, sites e revistas cuja tarefa é agredir o Supremo, a Procuradoria-Geral da República, a oposição e a imprensa independente. E se trata de uma ação que não encontra limite nem no crime: a difamação é empalidecida pela injúria, e ambas perdem para a calúnia. 

Não existe nada parecido em nenhum estado democrático do mundo. E, nesses veículos, à diferença do que se vê na imprensa criticada por Bastos, não existe espaço para o contraditório. O que se faz é o proselitismo mais descarado, mais abjeto, mais servil. 

ATENÇÃO! Não se trata de uma visão alternativa àquela da chamada grande imprensa. Trata-se do uso do dinheiro público para fazer a defesa de um partido. 

A maior parte da receita das empresas jornalísticas tem origem no setor privado. Aquela gente faz outra coisa: apropria-se de recursos públicos — que a todos pertencem, petistas e não-petistas — para defender… petistas! 

Que o Ministério Público jamais tenha se interessado por isso, eis um fato por si mesmo escandaloso.

Mais AQUI.

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