O Estado de S.Paulo
O governo, sob a bênção do Banco Central (BC), renunciou a um ponto essencial da política definida desde o Plano Real: a de uma taxa de câmbio que flutue livremente. Não devia ter feito essa mudança num momento delicado para a economia e, em particular, para as contas externas.
Ficou claro, depois das declarações de um diretor do BC e das afirmações do ministro Mantega, que, oficialmente, as autoridades estão decididas a intervir no mercado cambial para manter a desvalorização do real ante o dólar, que tem de ficar acima de R$ 2,00.
Isso criou um clima de incerteza entre os investidores estrangeiros que, apesar das pequenas intervenções do BC, acreditavam que as regras do jogo não haviam mudado, e que se podia prever, com margem limitada de erro, como evoluiria a taxa cambial.
É uma previsão essencial para os investidores, especialmente quanto a calcular o eventual retorno de suas aplicações financeiras no Brasil. Já haviam sido surpreendidos com a tributação do IOF, que eliminou, em alguns casos, a rentabilidade das aplicações, a ponto de o governo ter-se visto na obrigação de, em parte, voltar atrás em sua decisão. Mas, sem dúvida, a oficialização da política de intervenção do BC no mercado cambial representa um sério golpe, mesmo depois de ter se aceito discretas intervenções corretivas da taxa diante de uma valorização excessiva.
Os exportadores precisam ter uma boa previsão da receita ao conseguir um adiantamento por suas vendas; os importadores estão na mesma situação, quando recorrem à operação de adiantamento de suas compras.
O momento foi mal escolhido para mudar a política cambial, pois está se prevendo um forte déficit em transações correntes que deve ser compensado por operações financeiras.
O saldo das operações de câmbio contratado, nos meses de maio e junho, foi preocupante: negativo em US$ 2,691 bilhões, em maio, e reduzido a apenas US$ 318 milhões positivos, em junho. As operações financeiras é que apresentaram forte queda. O mercado deixou de confiar.
Isso poderá afetar o fluxo de investimentos estrangeiros diretos. Pode-se pensar que a desvalorização do real os atrai, na medida em que com os mesmos dólares se conseguem mais reais para aplicar.
Mas, os investidores estrangeiros dão, em geral, maior importância aos dólares de lucros e dividendos que poderão transferir mais tarde. E, doravante, esse tipo de operação exigirá mais reais.
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