Esta terra ainda vai cumprir seu ideal: ainda vai se tornar um imenso Butão! E será uma obra conjunta do PT e da oposição!
Por Reinaldo Azevedo
Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff ficou a um passo de propor ao Butão uma aliança estratégica para fazer do tal Índice de Felicidade o verdadeiro medidor da fortuna dos países.
Há menos de dois meses, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmava que o Brasil cresceria 4% — no começo do ano, falava-se em 4,7%, 4,5%. Tudo indica que ficará aí em torno de 2%; é consenso que será menos do que os 2,7% do ano passado. Num discurso para a juventude, a governanta não hesitou: esse negócio de PIB é muito relativo, entenderam? O importante é cuidar das pessoas.
Há menos de dois meses, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmava que o Brasil cresceria 4% — no começo do ano, falava-se em 4,7%, 4,5%. Tudo indica que ficará aí em torno de 2%; é consenso que será menos do que os 2,7% do ano passado. Num discurso para a juventude, a governanta não hesitou: esse negócio de PIB é muito relativo, entenderam? O importante é cuidar das pessoas.
Ah, bom!!! Tudo como no Butão, aquele reino famoso por ter criado o tal “Índice de Felicidade”, que andou seduzindo alguns trouxas dispostos a aderir a qualquer orientalismo exótico. (...)
Como dizem os cantores de axé e do breganejo, “quem tá feliz tira o pé do chãããooo!!!”
Antes que continue, uma observação à margem: não acho que caberia a Mantega fazer previsões pessimistas e deixar cabisbaixos os tais agentes econômicos. Mas também não precisaria ter se comportado como animador de auditório. Não podendo falar a verdade, resta o caminho do prudente silêncio. Há gente o bastante no governo para fazer proselitismo político.
Pois bem! Ninguém tem dúvida de que acabou a fase da bonança para o Brasil, que havia pegado carona no crescimento da economia mundial.
(...)
Questão política
Dada essa realidade, o normal seria que houvesse um intenso debate no país, a mobilizar as lideranças da oposição (quais, santo Deus!?), os sindicatos, os ditos movimentos sociais, os líderes empresariais… Mas quê!!!
O que se ouve é um silêncio constrangedor — quando não se tem uma espécie de chacrinha adesista. Há comerciais de bancos, por exemplo, que não se distinguem da voz do oficialismo.
Se as oposições — mais raquíticas do que nunca, é verdade — estão mudas, aquelas outras vozes da sociedade foram cooptadas pelo capilé oficial: numa ponta, compra-se a adesão com o Bolsa Família; na outra, com o Bolsa BNDES; durante um bom período, houve também o Bolsa Juros.
O Butão de dimensões continentais ficou feliz enquanto durou a farra e enquanto o país era a Blanche Dubois da economia — vivendo da boa vontade de estranhos. Na hora de viver segundo os próprios méritos, a receita desandou.
E notem: o silêncio não se resume à economia.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concedeu uma entrevista a André Petry, nas Páginas Amarelas da VEJA desta semana. Destaco alguns trechos (em azul):
(…)
O BNDES pega dinheiro do Tesouro e empresta a empresas com juros subsidiados. Quem paga o subsídio? Nós, os contribuintes. (…) O Brasil hoje é o país da Bolsa Família e da Bolsa Empresa, o que resultou na felicidade geral. Daí o apoio ao governo.
(…) A classe média ficou de fora. Mas, com a prosperidade das bolsas, as pessoas perderam a motivação para debater. Não há mais debate. O debate político-partidário perdeu sua centralidade. (…) O debate se deslocou para a mídia. É por isso que o governo acusa a mídia de ser oposição. Porque é a única instituição que fala, e o povo ouve.
(…)
[Os partidos] precisam tomar posição diante dos fatos correntes. Como têm medo de assumir posições, os partidos não falam nada. Legalização das drogas? Silêncio. Aborto? Silêncio. Relação do Estado com a religião? Silêncio. Qual é a melhor maneira de resolver a questão do transporte? Silêncio. São questões do cotidiano. Questões que levariam a população a se identificar com os partidos. A própria sociedade civil, antes vibrante e ativa, se encolheu. Sempre digo: se você não politiza, não acontece nada.
(…)
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O BNDES pega dinheiro do Tesouro e empresta a empresas com juros subsidiados. Quem paga o subsídio? Nós, os contribuintes. (…) O Brasil hoje é o país da Bolsa Família e da Bolsa Empresa, o que resultou na felicidade geral. Daí o apoio ao governo.
(…) A classe média ficou de fora. Mas, com a prosperidade das bolsas, as pessoas perderam a motivação para debater. Não há mais debate. O debate político-partidário perdeu sua centralidade. (…) O debate se deslocou para a mídia. É por isso que o governo acusa a mídia de ser oposição. Porque é a única instituição que fala, e o povo ouve.
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[Os partidos] precisam tomar posição diante dos fatos correntes. Como têm medo de assumir posições, os partidos não falam nada. Legalização das drogas? Silêncio. Aborto? Silêncio. Relação do Estado com a religião? Silêncio. Qual é a melhor maneira de resolver a questão do transporte? Silêncio. São questões do cotidiano. Questões que levariam a população a se identificar com os partidos. A própria sociedade civil, antes vibrante e ativa, se encolheu. Sempre digo: se você não politiza, não acontece nada.
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A verdade lastimável é que não se ouve a voz da oposição nem na economia nem nas questões que dizem respeito a valores, que são fundamentais para determinar as escolhas políticas.
Ao contrário: vive-se sob a égide da patrulha e do medo.
Ainda como membro do Conselho Político do PSDB — instância que nunca chegou a existir de fato —, José Serra, agora candidato à Prefeitura de São Paulo, antecipou com impressionante precisão alguns dos problemas que o país está enfrentando.
Os artigos, publicados na imprensa, estão reunidos em seu site.
Os tucanos leram? Parece que estavam pisando os astros distraídos — ou desastrados, como diria um cantor…
(...)
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