segunda-feira, 2 de julho de 2012

PACOTES FRACASSARAM NO PASSADO, FRACASSAM TAMBÉM NO PRESENTE


Contratações diminuem, mesmo com incentivo do governo

Setores reduzem ritmo de contratação de funcionários em até 74%



Operários da construção civil trabalham: segmento não recebeu incentivo do governo, mas teve saldo líquido de 161 mil contratações entre janeiro e maio deste ano
Foto: Bloomberg News / Paulo Fridman

Mesmo após receber incentivos fiscais do governo federal, muitos setores registraram queda de até 74,49% no ritmo de abertura de novos postos de trabalho nos primeiros cinco meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2011.


Os quatro setores que, desde o fim do ano passado, já usufruem da desoneração da folha de pagamentos (couro e calçados, call centers, tecnologia da informação e confecções), por exemplo, estão contratando menos. O mesmo acontece com os fabricantes de automóveis, que desde o fim de 2011 ganharam as barreiras tarifárias contra os importados, e ainda tiveram o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido, novamente, a partir do mês de maio.
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Para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), a queda no ritmo de contratações indica que parte do setor não achou vantajosa a troca da contribuição patronal de 20% sobre a folha de pagamentos pela alíquota de 1,5% sobre o faturamento bruto, que passou a vigorar em 15 de dezembro.
— Nossas contas indicavam que o número correto seria 0,8% sobre a receita bruta. Mas foi adotada uma alíquota de 1,5%. O resultado é que a indústria está muito travada e perdendo produção nesses cinco primeiros meses de 2012, mas ainda assim está contratando — diz o diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel.
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A situação mais grave, porém, é a do setor de autopeças, que, apesar de favorecido indiretamente pelos incentivos dados às montadoras, amargou o fechamento de 5,5 mil postos de trabalho nos cinco primeiros meses do ano.
O cenário de desaceleração do emprego já é motivo de apreensão entre os representantes dos trabalhadores. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, estima que a fábrica da General Motors na cidade já fechou 1,2 mil postos de trabalho desde abril de 2011. — Embora não tenha sido demissão, foram vagas que não foram repostas. Isso continua mesmo com os incentivos dados pelo governo — diz Antonio Ferreira dos Santos, presidente da entidade.
Em abril, a GM lançou um Programa de Demissão Voluntária (PDV) que teve 186 adesões. O programa foi reaberto há duas semanas em São José dos Campos e estendido à fábrica de São Caetano, no ABC paulista. Segundo a montadora, o PDV foi levado a São Caetano a pedido do sindicato e os fechamentos de postos em São José dos Campos se devem à eliminação de um dos turnos nas linhas de produção do Corsa, Meriva, Zafira e Classic, modelos que estão com o ritmo de vendas em baixa. A empresa informou ainda que está contratando mais pessoal nas outras unidades, em Gravataí (RS), onde está ampliando a fábrica, e em São Caetano, por conta da produção de novos modelos.
Capacidade de consumo se esgota
— Esperávamos um crescimento de 8% nas vendas no trimestre, mas tivemos uma alta de apenas 2,5% — afirmou José Luiz Diaz Fernandez, presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel).
Segundo Márcio Salvato, coordenador de Economia do Ibmec, o desempenho abaixo do esperado das reduções do IPI indica que há um esgotamento do modelo de incentivo ao consumo.
— Estamos chegando a um limite da capacidade deste consumo responder aos incentivos. O crédito já se expandiu bastante e a inadimplência também está em alta, o que indica que a capacidade de consumo das famílias está se esgotando — afirma.
Salvato diz que os incentivos concedidos a setores específicos têm o inconveniente de serem dados por um prazo determinado e adiantarem o consumo. Isso faz com que seus benefícios em termos de geração de empregos sejam limitados.
— O empresário prefere produzir mais usando horas extras do que contratando novos funcionários. Ele sabe que essa demanda é momentânea. Seria mais interessante dar reduções fiscais que fossem amplas e permanentes — diz.
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