(Vejam o que está acontecendo com o maior programa de "privataria" dos medicamentos da história do país)
LÍGIA FORMENTI / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O Ministério da Saúde paga por uma cartela de
anticoncepcional vendida no Programa Aqui Tem Farmácia Popular até 163
vezes mais do que municípios desembolsam pelo mesmo produto, distribuído
gratuitamente nos postos de saúde de todo o País.
Levantamento feito pelo Estado com base em dados de
um banco público de compras mostra que o ministério pagou mais por 17
dos 21 itens analisados. A diferença entre o que saiu do caixa do
governo federal e o menor preço encontrado no mercado, em compras feitas
este ano no programa, ultrapassa meio bilhão de reais (R$ 504, 5
milhões).
(...)
O Ministério da Saúde paga diretamente para as farmácias a diferença
entre o valor fixado com o setor privado e o que é desembolsado pelo
usuário. O programa vale apenas para farmácias credenciadas.
(...)
"São as farmácias que fazem a negociação."
O dinheiro investido, no entanto, é considerado extremamente alto por
quem acompanha a política de assistência farmacêutica.
"Se o governo
pode gastar em média dez vezes mais em cada tratamento, porque esse
investimento não foi feito antes na própria rede pública?", questiona o
professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Augusto Afonso
Guerra Júnior.
(...)
Compras públicas. O promotor de Justiça Nélio Costa Dutra Júnior
identifica um outro efeito do Farmácia Popular.
"Como os preços pagos
pelo governo federal são mais altos, fica desinteressante para o setor
privado participar de disputas de compras nos Estados e municípios."
Algo que, em sua avaliação, pode levar, no curto prazo, a um aumento do
preço do remédio adquirido nas licitações.
O valor do reembolso feito pelo ministério é fixado numa negociação
com setor privado.
"É preciso lembrar que, além do valor pago pelo
governo, o setor privado ainda recebe a parcela do comprador", diz.
Guerra Júnior avalia que esse sistema traz ainda outro problema: o
desestímulo para a oferta das versões genéricas dos medicamentos.
"Se o
consumidor escolhe a marca mais cara, o varejista terá maior lucro. Como
genéricos são mais baratos, eles são os últimos a serem oferecidos."
Duplicidade. Ex-coordenadora de assistência farmacêutica no município
de Goiânia, a integrante do Conselho Nacional de Saúde Lorena Baia
observa ainda haver duplicidade no sistema.
Vários dos remédios
encontrados no Farmácia Popular também estão disponíveis para
distribuição gratuita nos serviços públicos de saúde.
Como não há troca de informações entre os dois sistemas, um paciente
pode no mesmo mês receber o remédio no Farmácia Popular e também pegá-lo
na unidade de saúde do município. Basta ter duas receitas.
Íntegra AQUI.
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