A louvação de certos analistas tem criado um clima de ufanismo, ilusão e desinformação no Brasil. E Ricardo Amorim costumava demosntrar uma certa euforia com o cenário da economia brasileira até então, o que até mesmo uma "leiga mequetrefe", como é meu caso, já contesta há algum tempo.
Provavelmente, analistas de escritório tendem a crer nos números em detrimento das circunstâncias. Um aspecto importante é o crescimento que tem se sustentado apenas no consumo, sem considerar que não houve desenvolvimento propriamente dito, mas o estímulo ao endividamento que já se mostra esgotado.
Não tenho visto ninguém fazer um contraponto contundente, nos últimos dez anos, que pudesse desmistificar as maravilhas vendidas na propaganda oficial e nas peças publicitárias em geral, muito menos quem ousasse alertar a população para tomar cuidado com certas armadilhas que estão condenando o país ao atraso e as famílias à dependência da boa vontade dos governantes. Resultado, nosso povo está desaprendendo a andar com as próprias pernas.
Isso seria o idealizado socialismo?
Os setores produtivos também estão se tornando reféns dos PACotes da Dilma. E tenho a impressão que esse é o propósito, não é só questão de incompetência.
Quanto ao lucro, outro mito que precisa ser desconstruído. Os mesmos que aplaudem os números do governo, a arrecadação nas alturas, ou seja, nosso dinheiro, incomoda-se com o sucesso de alguém que investe por conta própria e conquista o que merece. Mais do que injusto, é uma discrepância.
Leiam e reflitam:
Por Ricardo Amorim
postado em Artigos | Istoé
Novamente, o governo adotou várias medidas para combater a desaceleração da economia causada pelos efeitos globais da crise europeia.
Tais medidas ilustram bem os defeitos da
economia brasileira. Somos o país do plano B. Falta o plano A.
Não planejamos, nem temos um modelo de desenvolvimento. Também na economia, somos o país do puxadinho, do combate à doença, ao invés da prevenção. Já dizia Peter Drucker que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Nós não prevemos, não criamos, nem agimos. Apenas reagimos.
Não planejamos, nem temos um modelo de desenvolvimento. Também na economia, somos o país do puxadinho, do combate à doença, ao invés da prevenção. Já dizia Peter Drucker que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Nós não prevemos, não criamos, nem agimos. Apenas reagimos.
O governo alega que a crise europeia e suas consequências eram imprevisíveis. Mentira. Meus leitores já sabem disto faz tempo.
Nossos governos, todos eles, quase nunca
atacam as causas dos desarranjos, apenas suas consequências. Distorções
causadas por gastos públicos excessivos – impostos elevados,
infraestrutura precária, juros altos e câmbio apreciado – limitam a
competitividade de vários setores. As respostas? Tentar forçar, na
marra, a queda dos juros e a queda do Real, ou então elevar impostos de
produtos importados. Isto transfere a conta das empresas para o
consumidor, através de uma alta da inflação, transformando o Brasil em um país caro, ao invés de um país rico.
Reações favoráveis da maior parte da
opinião pública a algumas medidas recentes mostram o quanto o
capitalismo ainda tem de evoluir por aqui.
O melhor exemplo é o uso de bancos
públicos para forçar bancos privados a reduzirem suas taxas de juros.
Sou favorável ao máximo de competição possível em qualquer setor da
economia. Entretanto, não dá para esperar que um país com os mais altos
níveis de juros básicos, tributação do sistema financeiro e alíquotas de
depósitos compulsórios do mundo não tenha também as mais altas taxas de
juros ao consumidor e às empresas.
“Mas os bancos lucram demais.” Este argumento carrega uma contradição que nos condena ao fracasso. Vivemos em um sistema capitalista onde lucrar é pecado.
“Mas os bancos lucram demais.” Este argumento carrega uma contradição que nos condena ao fracasso. Vivemos em um sistema capitalista onde lucrar é pecado.
Com sua atuação onipresente, o Estado
quebra um dos pilares do capitalismo: a livre iniciativa.
Casos de favorecimento a grupos, empresas e indivíduos pelo Estado – sem falar em uma cachoeira de corrupção – criaram a percepção de que, no capitalismo brasileiro, qualquer lucro é suspeito. Um histórico de lucros privados e prejuízos socializados distorceu ainda mais a percepção da sociedade em relação aos empresários e empreendedores.
Nos EUA, um empresário de sucesso desperta admiração, no Brasil, desconfiança.
Somos um pássaro com vergonha de voar. Esta não é uma receita de desenvolvimento, mas de atraso.
Casos de favorecimento a grupos, empresas e indivíduos pelo Estado – sem falar em uma cachoeira de corrupção – criaram a percepção de que, no capitalismo brasileiro, qualquer lucro é suspeito. Um histórico de lucros privados e prejuízos socializados distorceu ainda mais a percepção da sociedade em relação aos empresários e empreendedores.
Nos EUA, um empresário de sucesso desperta admiração, no Brasil, desconfiança.
Somos um pássaro com vergonha de voar. Esta não é uma receita de desenvolvimento, mas de atraso.
Faria melhor o governo retirando
entraves à competitividade da economia, o que só será possível com
redução de gastos públicos e fim do envolvimento do Estado em tudo, e
das benesses que já chamei aqui de Bolsa-Brasil.
Feito isso, ele precisa abolir os entraves à competição, abolindo
“resgates” de setores ou empresas em dificuldade. Em um regime
capitalista, para que haja vencedores, também haverá perdedores.
O Brasil tem de adotar políticas de
redistribuição de oportunidades e capacitação, que tornam não apenas os
pobres, mas toda a sociedade mais rica. Políticas diretas de
redistribuição de renda, na maioria das vezes, tornam os ricos e a
sociedade permanentemente mais pobres, e os pobres apenas
temporariamente mais ricos. Já passou da hora de garantirmos a todos uma
boa educação e substituirmos o ódio ao lucro por uma ode ao lucro.
Ricardo Amorim
Economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews e presidente da Ricam Consultoria.
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