Miriam Leitão, O Globo
O ministro Ricardo
Lewandowski ameaçou sair do plenário e não ouvir a réplica do ministro
Joaquim Barbosa, na semana que vem, caso o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, não dê a ele o direito de
tréplica. Foi desconcertante esse bater de pé no chão do revisor.
Precisou ser lembrado pelo presidente da Casa de que o relator tem papel
de “centralidade”.
Na votação, todos se igualam. Cada ministro,
um voto. No entanto, a relatoria foi conferida a Joaquim Barbosa. O
ministro Lewandowski pode e deve fazer seu trabalho de contraponto,
pesponto ou complemento, mas o que não pode é revogar o fato de que o
relator tem esse papel central. Os papéis são diferentes. Os dois
trabalharam arduamente no processo, só que Joaquim, por cinco anos,
Lewandowski, por seis meses.
Se as palavras — relator e revisor — já não bastassem, os dois tempos iluminam a diferença de papéis.
Na
sessão de quinta-feira, o revisor apresentou visão oposta à do relator
no caso envolvendo o réu João Paulo Cunha. Tem esse direito.
Da
mesma forma que na véspera condenou Henrique Pizzolato, Marcos Valério e
seus sócios por vários crimes que, na visão de ambos, foram cometidos
no Banco do Brasil.
No voto, o relator mostrou que, através dos
contratos de publicidade, foi montado na Câmara um centro de
arrecadação. Da mesma forma que foi feito no Banco do Brasil. Então não é
o caso de explicar apenas os R$50 mil. Vai muito além. Ficou claro
também que não é o tamanho da vantagem que faz a culpa, mas a vantagem
em si.
Parece mais lógica a narrativa do ministro relator pelos
muitos indícios, provas, contradições e depoimentos de que foi usada a
mesma metodologia nos dois casos. Não se pode imaginar que a SMP&B e
a DNA fossem corruptoras no Banco do Brasil e impolutas na Câmara dos
Deputados, se em tudo os atos das empresas se assemelham.
Pelo relato de Lewandowski, os R$ 326 mil de Pizzolato o incriminam,
mas os R$ 50 mil de João Paulo, não. A diferença entre um e outro é que o
ex-presidente da Câmara mandou a própria mulher; enquanto o ex-diretor
do Banco do Brasil mandou um contínuo. As várias versões do deputado
para o dinheiro sacado pela mulher não foram consideradas por
Lewandowski.
Nisso, Pizzolato pelo menos foi mais consistente:
manteve até em juízo a esquisita versão de que uma secretária de Marcos
Valério ligou para ele e pediu para ele ir à cidade pegar uma encomenda
para o PT. Ele não estranhou o fato de ser tratado pela secretária como
um mensageiro, mesmo sendo diretor do Banco do Brasil e conselheiro da
Previ. Disse apenas que naquele momento não poderia e pediu a um
contínuo da Previ para pegar a encomenda do PT e levá-la à casa dele.
Um detalhe: um partido pode usar os serviços de um fundo de pensão dos funcionários de um banco público?
Leia a íntegra em Uma cabeça, duas sentenças
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