sexta-feira, 21 de setembro de 2012

EXPLORAÇÃO ASQUEROSA DA DESGRAÇA ALHEIA

O incêndio na favela e a razia jornalística. 

Por Reinaldo Azevedo

A imprensa paulistana, já escrevi aqui algumas vezes, fez picadinho da gestão de Gilberto Kassab. É claro que há coisas na Prefeitura que não funcionam bem. Mas outras tantas avançaram bastante. Inútil! Já demonstrei também como essa razia jornalística preparou o caminho de um Celso Russomanno, com sua glossolalia política.

Muito bem! Na favela do Moinho, em São Paulo, o senhor Fidélis Melo de Jesus, de 37 anos, brigou com o namorado, Damião de Melo, de 38. Na luta amorosa dos Melos, quem pagou o pato foram os moradores da favela. Fidélis usou um botijão de gás como maçarico e meteu fogo no companheiro instável, que morreu carbonizado. Só que botou fogo na favela também. Na Folha desta terça, narram Rogério Pagnan, Marina Gama e Pedro Ivo Tomé: 

Com apenas três moradores treinados, sem extintores e com hidrantes trancados, o programa da prefeitura para combater incêndios voltou a falhar ontem e não impediu a destruição de cerca de 80 barracos na favela do Moinho, no centro de São Paulo...
(…) 

Voltei
Não há gestão que resista a abordagem assim, dia após dia. Título da reportagem: “Plano da prefeitura volta a falhar e fogo destrói favela”. As palavras fazem sentido. A culpada pelo fogo na favela do Moinho, está claro, é a Prefeitura — de Gilberto Kassab, quem sabe… Fidélis, o que fez torresmo do companheiro, foi apenas a mão que acendeu o maçarico. 


Ele, como se vê, não pode ser responsabilizado por nada. A Prefeitura está implementando esses planos de brigadas contra incêndio. Seria interessante saber se há menos ou mais ocorrências agora do que antes.

Noto que, se o plano não existisse, então a Prefeitura não poderia ser responsabilizada.  
Como existe, ela passa imediatamente à condição de culpada. É espantoso! Estupefaciente mesmo! 

Até porque a Folha só poderia ter estabelecido essa relação de causa e efeito depois de um laudo técnico. 
Um incêndio naquelas dimensões poderia ter sido evitado com um hidrante ou com uma brigada bem treinada? 
Especialistas demorariam alguns dias para chegar a uma conclusão.  

Os três repórteres não precisaram mais do que alguns minutos. 
Afinal, todos os textos contra Kassab já estão redigidos antes de qualquer ocorrência.  
E isso ainda é o de menos. 

Há uma nova cultura se plasmando no país — que, não tenham dúvida, nos condena ao atraso eterno. Ninguém é responsável por mais nada. 
(...)

“Ah, o Reinaldo acha que os pobres brasileiros vivem muito bem…” Não! Acho que vivem mal. E continuarão a viver a mal se essa cultura se consolidar. O Poder Público se torna o donatário de benefícios sem fim, e não se cobra dos indivíduos nem mesmo a responsabilidade por seus atos.

É claro que coisas assim prosperam porque há um espírito plasmado nas redações. Essa favela do Moinho — e voltarei ao assunto mais tarde — é, aliás, a evidência do triunfo da demagogia sobre a racionalidade.  

A Prefeitura tentou removê-la do local. Esquerdopatas das mais variadas tendências se mobilizaram acusando “higienismo”. E agora assistem à tragédia, apontando o dedo acusador para terceiros. 

Exploração asquerosa  

Ah, sim: os bombeiros ainda realizavam a operação rescaldo, e a equipe de TV de Fernando Haddad já estava lá, explorando a desgraça alheia, como urubus. A conclusão óbvia a que se chega é uma só: o candidato do PT precisa da miséria e da cegueira alheias para crescer. O jornalismo paulistano, com raras exceções, está com ele. Podem aguardar que essa história vai para o horário eleitoral com a chancela da “isenção jornalística”. 

Mais no blog do jornalista Reinaldo Azevedo.

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