domingo, 2 de setembro de 2012

Facções do PT ameaçam futuro do Jardim Botânico

O Globo (Editorial)

A decisão do presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira, de colocar o cargo à disposição não é apenas mais um lance no imbróglio das ocupações irregulares que colocam a instituição no centro de uma guerra entre grupos dentro do PT, o principal partido de sustentação do governo federal.

O pedido de afastamento, irreversível a julgar pelo decepcionante resultado do encontro que Liszt teve no início da semana com o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, acrescenta um tom mais preocupante ao problema das invasões de terras do parque. Não por acaso, foi de desânimo o sentimento que o presidente do parque passou na entrevista publicada anteontem pelo GLOBO.

O Planalto dá claras demonstrações de que, na briga, continua se inclinando para o front em que há um nítido aparelhamento de órgãos públicos.

Essas forças, que se armam a partir da leniência da Secretaria do Patrimônio da União, atropelam o interesse científico pelo qual o JB se bate, passam por cima de decisões já tomadas pela Justiça e impõem à sociedade a manutenção de agravos a uma instituição reconhecida internacionalmente por sua importância na defesa da biodiversidade.
A direção do Jardim Botânico luta para fazer o parque exercer a função para a qual foi criado — portanto, pelo cumprimento da lei. O JB precisa de espaço para plantar espécies ameaçadas de extinção, representativas do bioma brasileiro, e para instalar laboratórios de pesquisa.

Mas, em vez de sair em apoio às legítimas iniciativas de reaver terras ocupadas irregularmente, fundamentais para os projetos da instituição e sua consolidação dentro da agenda científica do país, o governo alimenta projetos oportunistas que estão por trás das querelas fundiárias.

Não bastasse o pressuposto científico e ambiental da questão, bem como as decisões judiciais que a SPU jogou no lixo, a retomada das áreas ocupadas é objeto também de análise do Tribunal de Contas da União. No processo que considera ilegais as ocupações, o relator já determinou providências de curto prazo para que a lei seja cumprida.

Há ainda outros aspectos a amparar a direção do parque, como o Plano Diretor do Rio, que estabelece a ocupação das áreas do JB para atividades científicas. Por fim, atropela-se o bom senso com a construção de casas numa região de preservação ambiental. Nada é levado em conta.

 
Figura de ponta no front da baderna fundiária, o ex-ministro da Integração Racial, Edson Santos, deputado federal pelo PT-RJ, toma o parque como feudo próprio.

Age com desenvoltura para solapar as tentativas de reintegração da área, alegando que ele e sua família sempre moraram no local. Uma argumentação inaceitável, mas que se sustenta à sombra do aparelhamento de órgãos públicos, como ensina a cartilha de gestão de facções com visível influência no Planalto.

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