Guilherme Fiúza, O Globo
A elite suja e
reacionária deste país está aplicando mais um golpe contra o PT. Este
foi o alerta dado pelo presidente do partido, Rui Falcão. Ele ficou
indignado com a condenação de João Paulo Cunha, no STF, por corrupção
passiva e peculato.
Com a perspectiva de que outros réus do
partido tenham o mesmo destino no julgamento do mensalão, Falcão
ameaçou: “Não mexam com o PT, porque quando o PT é provocado ele cresce,
reage.”
Reage mesmo. E reage com patriotismo. Por sorte, o Sete
de Setembro estava chegando, proporcionando mais uma ótima ocasião para
Dilma Rousseff falar diretamente ao seu povo, sem passar pela mídia
burguesa — que, segundo Falcão, é uma das agentes do golpe, junto com o
Judiciário e outros vilões da elite suja.
O golpe é contra o operário e a mulher que mudaram este país. Mas a mulher reagiu no Dia da Independência.
Dilma
só disse coisas boas em cadeia nacional de rádio e TV. O melhor do seu
pronunciamento, porém, foi o fundo musical. Com a sutileza própria dos
revolucionários, que endurecem sem perder a ternura, entraram na
comunicação presidencial um violino choroso e um piano adocicado,
ornando com perfeição o melodrama dos oprimidos, que resistem firmes ao
golpe dos reacionários.
(...)
Num
pronunciamento oficial com toques de showmício, evidentemente o que é
falado é o menos importante. E está certo que seja assim. Ninguém vai
querer que o telespectador, contando os minutos para ver Carminha, fique
prestando atenção na numeralha do Brasil-potência que o PT construiu.
E
isso é ótimo, porque só o que faltava era esperarem que a presidente,
com todo o trabalho de cabeleireiro, cenografia e trilha sonora, ainda
tivesse que dizer coisa com coisa.
Como diz o Hino da
Independência, já raiou a liberdade no horizonte do Brasil — inclusive a
liberdade de dizer a essa brava gente o que lhe der na telha. Foi desse
jeito livre que Dilma Rousseff anunciou uma redução nas tarifas de
energia, naturalmente sem mencionar que devia R$ 7 bilhões aos
brasileiros por cobranças indevidas nas contas de luz. Mas isso não
combinaria com piano e violino.
(...)
Viva o povo que aprova o governo do PT, e o protege
desses golpes da elite suja e da mídia conservadora. Lula e José Dirceu
também prometem reagir, denunciando à OEA o atentado aos direitos dos
réus do mensalão.
De fato, é preciso proteger os seus direitos de
ir e vir entre os cofres públicos e a caixinha do partido.
(...)
O
ideal seria que o julgamento do mensalão fosse todo transmitido por
boletins da presidente em cadeia nacional, com violino. A mídia golpista
ia ver o que é bom para tosse — e para as eleições.
O importante é
isso: não deixar que a elite suja desmascare os companheiros limpos, e
assim golpeie sua imaculada máquina eleitoral.
Se o eleitorado
desconfiar que o país caminha apesar de um governo parasita e
perdulário, pode querer desalojar os companheiros de suas cadeiras
públicas — o que seria um grave problema social.
O currículo da
própria presidente não deixa dúvidas: não se sabe o que seria dessa
brava militância sem a bênção do voto (e do emprego que dele emana).
A
heroína argentina já está ouvindo panelaços. O tango da viúva
melodramática começou a desafinar. Por aqui, a trilha sonora do
oprimido, por incrível que pareça, continua dando para o gasto.
Leia a íntegra em O mensalão e o violino
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