Editorial da Folha de São Paulo
Durante a 30ª sessão de julgamento do mensalão, ontem, o Supremo
Tribunal Federal (STF) deu cabo de uma farsa que sobrevivia apenas para
setores do PT e seus aliados, nos últimos sete anos. A maioria dos ministros confirmou no plenário do Supremo que o mensalão
foi um esquema concebido com a finalidade de assegurar apoio parlamentar
durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
As provas reunidas pela Procuradoria-Geral da República foram
suficientes, portanto, para convencer a mais alta corte do país de que o
mensalão foi alimentado por verbas públicas utilizadas para comprar
votos de membros do Congresso Nacional.
Fica, assim, relegada aos capítulos burlescos da história a tese mendaz
de que o mensalão não teria passado de episódica distribuição de sobras
de campanha, sem contrapartida de apoio político.A tentativa de desqualificar o julgamento como um todo, no entanto,
merece tratamento ainda mais severo. Não seria pequeno o prejuízo à
República se o esforço de desvendar os atos de corrupção praticados no
governo Lula ficasse carimbado como "golpismo" e "ataque à democracia"
-pois as pechas atingiriam o próprio STF.
Talvez por essa razão o ministro Celso de Mello tenha feito defesa
enfática dos procedimentos adotados pelo Supremo. Antes de proferir seu
duríssimo voto na sessão, o decano da corte reiterou que vêm sendo
respeitadas as garantias constitucionais, que não houve desconsideração
com direitos e que o processo do mensalão é conduzido sob ampla
publicidade e permanente escrutínio público.
Quando presentes, esses princípios republicanos reforçam a legitimidade
das decisões -é o que se dá agora com o STF. Quando ausentes, tornam-nas
duvidosas -foi o que ocorreu com os negócios do PT imiscuídos no
governo Lula.
Eis por que Celso de Mello classificou a corrupção como "perversão da
ética do poder e da ordem jurídica". Pela mesma razão, disse que "o
Estado brasileiro não tolera o poder que corrompe nem tolera o poder que
se deixa corromper". E, para realçar sua decisão, afirmou que os réus
do mensalão "transformaram a cultura da transgressão em prática
ordinária".
Sinal dos tempos, personagens conhecidos da política nacional estão
entre os réus que já foram condenados nesse julgamento. Figuram nessa
lista, por exemplo, os deputados federais João Paulo Cunha (PT-SP),
Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), além dos ex-deputados
Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Carlos Rodrigues (PL-RJ, atual PR).
Até aqui, o Supremo foi rigoroso ao condenar por corrupção passiva os
réus que receberam dinheiro para ingressar na base de apoio a Lula.
Parece haver pouca dúvida de que manterá o mesmo ânimo com os
corruptores e de que nesse rol entrarão os líderes petistas José Dirceu e
José Genoino.
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