A reunião havida no Palácio dos Bandeirantes entre representantes do governo de São Paulo e do governo federal para elaborar um plano contra o surto de violência no Estado é, em si, uma boa notícia — que até chega tarde… Em vez de efetivamente oferecer colaboração e atuar em favor dos interesses dos brasileiros que moram em São Paulo, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) havia optado por demonizar o governo do estado, fazendo baixo proselitismo eleitoreiro de ocorrências obviamente graves.
O estado de São Paulo tem um histórico notável de redução dos índices de homicídio. Dados os números, que não são meus, mas do Mapa da Violência, é a unidade da federação mais bem-sucedida na área nos últimos 12 anos.
Mas o estado também viu nascer, há muito, o PCC (Primeiro Comando da Capital), uma organização criminosa surgida nos presídios e que tem, como todas, braços operando fora das cadeias. Desde as ações terroristas promovidas em 2006 — um ano eleitoral! — e a consequente reação da polícia, o partido do crime não mostrava a sua cara com tanta virulência como agora.
São Paulo não é o único estado a contar com um partido da bandidagem. O Rio, por exemplo, tem três (...)
A história vem de longe. Criminosos organizados numa espécie de partido político, de inspiração claramente leninista — que delega a um Comitê Central a liberdade para tomar decisões, sem prévia consulta às bases, de cumprimento obrigatório (o nome disso é “centralismo democrático”) —, surgiram com o Comando Vermelho (CV), em 1979.
O CV, se querem saber, é a maior herança política, cultural e moral que nos deixaram os comunistas. É verdade! Foram eles que passaram instruções de organização aos bandidos comuns com os quais dividiam cela no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande.
Sabem cumé… Os comunistas tinham a ambição de unir todas as forças sociais “oprimidas” contra o capital (isso no tempo, claro, em que eles não eram regiamente remunerados pelo… capital!) e instruíram os bandidos a se juntar contra os homens de bem. Os camaradas os fizeram ver que o egoísmo e o personalismo eram desvios burgueses que militavam contra os interesses da… classe criminosa!
O PCC se tornou o que o CV nunca conseguiu ser. No Primeiro Comando da Capital, o “centralismo democrático” leninista realmente funciona. Existe uma hierarquia partidária, política, que não comporta rebeliões. Essa unidade ganhou também uma administração de caráter, vá lá, empresarial. Se é difícil combater bandidos que brigam entre si, como se vê no Rio — onde a instalação de UPPs, como já está claro, se faz com a autorização dos “donos” da comunidade —, mais difícil é combatê-los e contê-los quando se comportam como ordem unida.
As ações do PCC, como é visível, têm caráter claramente terrorista — e, acreditem!, o Brasil não tem uma lei para punir esse tipo de crime com a devida gravidade.
Noventa policiais já foram mortos neste ano. Outros assassinatos se multiplicam. A intenção de levar o pânico às ruas está mais do que clara. Mesmo com todas essas ocorrências, São Paulo segue sendo um dos estados com o menor número de homicídios dolosos por 100 mil habitantes. Quando se fizer o ranking de 2012, teremos a chance de verificar que estará lá disputando as últimas posições.
Ocorre que estatísticas não geram notícias, mas homicídios, sim, especialmente quando há uma óbvia exploração política de ocorrências que nem mesmo estão relacionadas ao crime organizado.
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O fato de noventa policiais terem sido assassinados num ano é, com efeito, algo muito grave, mas se trata de uma tolice afirmar que as execuções são “rotineiras”, até porque, reitero, o surto de violência se caracteriza justamente por fugir à rotina. Quem não se entende com as palavras não se entende com os fatos.
Por que o governo de São Paulo seria “um grande responsável por tudo o que está acontecendo”?
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O que estou afirmando, meus caros, é que a Polícia de São Paulo enfrenta vários inimigos ao mesmo tempo. O mais perigoso, para a integridade imediata dos cidadãos comuns e dos policiais, é mesmo a bandidagem, organizada pelo PCC. O mais deletério, no entanto, para a política de segurança pública de médio e longo prazos é a exploração política vigarista dos casos de violência.
Exploração eleitoreira
O PCC sabe que suas ações têm também um óbvio alcance político-eleitoral.
O PCC sabe que suas ações têm também um óbvio alcance político-eleitoral.
Ou não é verdade que o comando do partido do crime já expressou o seu descontentamento com os tucanos, por exemplo, chegando a indicar suas preferências?
Ou não é verdade que Fernando Haddad (PT), o prefeito de São Paulo, explorou em sua campanha, inclusive nos debates televisivos, o recrudescimento da violência, tentando tratá-lo como herança do adversário?
Ora, na gestão do governador Serra, o índice de homicídios dolosos caiu.
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