segunda-feira, 5 de novembro de 2012

SEM GRANDE JORNAL, ESTAMOS FRITOS

Confesso: morro de medo de sermos daqui a pouco como a Argentina

Sérgio Vaz

Vendeme un diario con noticias, canillita, / Clarín o Crónica, La Prensa o La Razón. / Si el mundo fue ya no será una porquería, / porque en el mundo vivimos vos y yo.("Preludio para un canillita", Astor Piazzola e Horacio Ferrer.)
Não sei se CrónicaLa Prensa e La Razón sobrevivem. Os jornais morrem, como morreu, poucos dias atrás, o Jornal da Tarde, em que comecei no jornalismo, em que tive o privilégio de trabalhar ao longo de 14 anos, de 1970 a 1984.

O que sei é que, se depender de Cristina Kirchner, o Clarín vai desaparecer.

Por uma coincidência grande, como tantas que acontecem na vida, li hoje a entrevista do diretor do La Nación à revista VejaLa Nación está para o Clarín mais ou menos como O Estado de S. Paulo está para a Folha de S. Paulo. São competidores, rivais. Me lembro, embora vagamente, de ter lido muitos anos atrás uma entrevista com o Otavinho, Otávio Frias Filho, hoje, e já há algum tempo, diretor editorial da Folha, dizendo que na cidade de São Paulo não cabem dois grandes jornais, e que só um sobreviveria – o dele, é claro.

Acho estranho um dono de jornal torcer pelo fechamento de um jornal. Acho estranho jornalistas detestarem a existência de jornais, como se vê nas redes sociais tantos jornalistas – lulo-petistas, é claro – vociferando contra a existência de jornais e revistas, a tal da grande imprensa, como eles chamam. Mas tudo bem. A vida é cheia de coisas estranhas.

Na entrevista à Veja, o diretor do La Nación, Bartolomé Mitre, trineto do fundador do jornal, que foi também presidente da Argentina entre 1862 e 1868, faz veemente defesa de seu concorrente direto, o Clarín. Ao contrário do Otavinho, que expressava seu desejo de que o concorrente morresse, desaparecesse, Bartolomé Mitre entende que ele e seu rival estão no mesmo barco.

 Protesto contra boicote que impediu distribuição do jornal (março/2011)

Os jornais independentes dos governos, os jornais que irritam o governante de plantão, estão no mesmo barco. Eles são a garantia da democracia.

A grande diferença entre um regime democrático e um regime totalitário, ou filo-totalitário, está na existência, ou não, de uma imprensa livre, independente.
Ou, para citar pela milionésima vez a frase brilhante, genial, do editorial de Millôr Fernandes na edição de número 300 do Pasquim, “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.

Os jornais e revistas que sobrevivem à custa de anúncios do governo e suas empresas – Caixa, Petrobrás, Banco do Brasil, Correios, etc, etc -, tipo Carta CapitalCaros AmigosBrasileiros – são armazém de secos e molhados. Não são imprensa.

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