Temos visto, uns após outros, casos de corrupção que mostram não apenas que o patrimonialismo continua sendo o cupim de nossa democracia como também que estamos vivendo uma época de desestruturação de valores da cidadania.
Essa politização exacerbada na escolha dos componentes da máquina do Estado, que leva o aparelhamento político a níveis os mais profundos, pode chegar até ao Supremo Tribunal Federal como revela a recente entrevista do ministro Luiz Fux à “Folha de S. Paulo”.
Se não aconteceu da maneira como os petistas supunham não foi devido ao entendimento de que a independência dos juízes é fundamental, mas ao que consideram simplesmente uma traição do escolhido com o suposto compromisso de ajudar o governo nessas votações.
O ministro Fux alega que, ao chegar ao STF, tinha uma visão do processo do mensalão que desmoronou diante da leitura atenta dos autos, onde teria constatado que existiam, sim, provas contundentes contra os réus.
(...)
O fato é que temos hoje instituições nacionais funcionando como órgãos de Estado, e não servindo ao governo da ocasião, o que é um exemplo de maturidade de nossa jovem democracia e faz contraponto a essa desestruturação da cidadania que serve a um projeto político autoritário.
O Ministério Público continua atuando com independência, e foi assim, por meio do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que atuou no processo do mensalão, embora ele tenha sido indicado pelo presidente Lula.
Essa independência toda levou a que petistas tentassem desmoralizá-lo em represália, na CPI do Cachoeira, e que também agissem contra a própria instituição, colocando para andar na Câmara um projeto que impede o MP de realizar investigações.
Sintomaticamente já está sendo conhecida como “a lei da impunidade”.
Agora mesmo temos o exemplo da Polícia Federal agindo de maneira autônoma e investigando nada mais nada menos que a chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, tida por todos como “a namorada do Lula”.
Os petistas mais paranoicos viram na ação uma tentativa de desestabilizar Lula, e citam como prova o fato de o ministro da Justiça não ter sido informado. Cardozo diz que não deveria mesmo sê-lo e defende a PF.
Não passa de uma balela, portanto, que a independência desses órgãos acontece graças aos governos petistas, como o ministro Gilberto Carvalho, da secretaria particular da Presidência, andou dizendo, corroborado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Na verdade, deve-se essa atuação a um processo que vem se desenrolando há muitos anos, desde a aprovação da chamada Constituição cidadã em 1988, e a democracia brasileira vai se tornando cada vez mais forte à medida que fique cada vez mais difícil aos governos controlar órgãos de Estado.
Leia a íntegra em A cidadania reage
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