Lula recebeu grana do mensalão e negociou empréstimos dos bancos ao PT; o então presidente e Palocci cuidaram pessoalmente do dinheiro ilegal recebido da Portugal Telecom; Okamotto o ameaçou de morte. Surgem na história Humberto Costa e Luiz Marinho. E há detalhes novos do caso Celso DanielPor Reinaldo Azevedo
Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff traçavam o futuro da humanidade em Paris, depois de ela dar algumas lições a Angela Merkel de como crescer pouco culpando os outros, começavam a vir à luz no Brasil as revelações que Marcos Valério fez ao Ministério Público num depoimento de três horas prestado às procuradoras Cláudia Sampaio e Raquel Branquinho no dia 24 de setembro.
A coisa vai esquentar, e os petistas sabem disso. Por isso o partido decidiu endurecer a sua retórica contra o Supremo, na esperança de intimidar o tribunal.
Por isso também a escória da Internet que serve à causa, financiada por estatais, chega ao absurdo de incitar atos de violência contra os que considera desafetos. E quem são os desafetos? Os que acham que lugar de ladrão de dinheiro público é na cadeia. Eles estão nervosos. Temem que a arquitetura do crime desabe sobre suas cabeças. Do que se trata afinal? Comecemos por uma curta memória.
A VEJA que chegava aos leitores na manhã do dia 15 de setembro, um sábado, trazia uma reportagem de capa com revelações que Marcos Valério andava fazendo a interlocutores seus.
A questão mais importante: Lula não só sabia de tudo como era o chefe do mensalão. O post sobre a matéria da VEJA está aqui. Reproduzo (em azul) título e entretítulos para que tenhamos uma síntese do que lá ia:
“REVELADOS SEGREDOS EXPLOSIVOS DE VALÉRIO, QUE TEME SER ASSASSINADO:
1) Mensalão movimentou R$ 350 milhões;
2) Lula, com Dirceu de braço direito, era o chefe;
3) presidente recebia pessoalmente doadores clandestinos;
4) publicitário se encontrou no Palácio com Dirceu e Lula várias vezes;
5) Delúbio, o tesoureiro, dormia com frequência no Alvorada”
– “O CAIXA DO PT FOI DE R$ 350 MILHÕES”;
– LULA ERA O CHEFE DO ESQUEMA, COM JOSÉ DIRCEU;
– VALÉRIO SE ENCONTROU COM LULA NO PALÁCIO DO PLANALTO VÁRIAS VEZES;
– PAULO OKAMOTTO, ESCALADO PARA SILENCIAR VALÉRIO, TERIA AGREDIDO FISICAMENTE A MULHER DO PUBLICITÁRIO;
– O PT PROMETEU A VALÉRIO QUE RETARDARIA AO MÁXIMO O JULGAMENTO NO STF;
– “O DELÚBIO DORMIA NO PALÁCIO DA ALVORADA”;
– EMPRÉSTIMOS DO RURAL FORAM FEITOS COM AVAL DE LULA E DIRCEU
De volta
Muito bem! Os repórteres Felipe Recondo, Alana Rizzo e Fausto Macedo, do Estadão, tiveram acesso ao depoimento prestado por Marcos Valério ao Ministério Público. As coisas se complicam ainda mais para Lula e Paulo Okamotto e levam para o centro do imbróglio petistas graúdos como o ex-ministro Antônio Palocci e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho. Também o caso Celso Daniel ganha detalhes novos. E volta à baila uma personagem conhecida do noticiário: Freud Godoy. Vamos lá.
Síntese do que disse Valério ao Ministério Público:
1- O esquema do mensalão pagou as despesas pessoais de Lula em 2003:
2- dinheiro foi depositado na conta de seu carregador de malas, Freud Godoy (aquele do escândalo do aloprados);
3- Lula participou pessoalmente das operações de “empréstimos” dos Bancos Rural e BMG;
4- os “empréstimos foram acertados dentro do Palácio do Planalto;
5- Valério diz que é o PT quem paga seus advogados (R$ 4 milhões);
6- Paulo Okamotto, que hoje preside o Instituto Lula, o ameaçou pessoalmente de morte;
7- Lula e Palocci negociaram com o então presidente da Portugal Telecom a transferência de recursos ilegais para o PT;
8- Luiz Marinho, agora prefeito de São Bernardo, foi quem negociou as facilidades para o BMG nos empréstimos consignados;
9- o pecuarista José Carlos Bumlai arrumou dinheiro para pagar o empresário Ronan Maria Pinto, que chantageava Lula no caso Celso Daniel;
10 – o senador Humberto Costa também recebeu dinheiro do esquema.
Dinheiro para Lula na conta de Freud
Segundo Valério, foram feitos dois repasses a Lula em 2003 para cuidar de suas despesas pessoais – pessoais mesmo, sabem?, “a nível de Lula”, sem qualquer ligação com a política. Um deles foi no valor de R$ 100 mil. A grana era depositada na conta de Freud Godoy, que ocupou papel de destaque no escândalo dos aloprados. A CPI dos Correios encontrou, com efeito, uma transferência de R$ 98.500 de uma das agências de Valério para o Freud do Lula…
Banco Rural, empréstimos e reuniões no Palácio. Com Lula!
As reuniões que decidiram os falsos empréstimos do Rural para o PT foram feitas dentro do Palácio do Planalto, com as presenças de José Dirceu (olhem ele aí, como sempre) e Delúbio Soares. Aconteceram, segundo o publicitário, numa sala grande, onde se faziam reuniões e, às vezes, algumas refeições. Tudo acordado, o grupo foi até Lula. Informado do combinado, o Apedeuta-chefe disse “ok”. Houve mais de um encontro. Numa primeira etapa, houve autorização para R$ 10 milhões; numa segunda, outros R$ 12 milhões. Dirceu disse, então, a Valério que Delúbio, quando negociava, o fazia em nome dele, Dirceu, e de Lula.
Advogado
Valério diz que é o PT que paga seus advogados. Esse depoimento, não custa lembrar, foi acompanhado por um deles, Marcelo Leonardo, que o defendeu no processo do mensalão no Supremo. Leonardo assina a transcrição escrita da fala de Valério. O partido já teria desembolsado até agora R$ 4 milhões nessa operação.
Ameaça de morte
VEJA já havia revelado que o interlocutor de Lula junto a Valério era Paulo Okamotto, aquele que, certa feita, afirmou ter pagado do próprio bolso um suposto empréstimo feito pelo chefe. É uma alma generosa.
Okamotto é hoje presidente do Instituto Lula. Segundo Valério, o petista lhe disse essas duas frases sem ambiguidades: “Tem gente no PT que acha que a gente deveria matar você” e “Você se comporta ou morre”. Uma das reuniões em que se tratou desse assunto teria sido feita na casa de uma mulher chamada Adriana Cedrola, diretora de uma empresa de Okamotto.
Lula, Palocci e a Portugal Telecom
Lembram-se daquela ida de Marcos Valério a Portugal? Pois é… Já se sabe que foi àquele país em busca de dinheiro para alimentar o esquema.
Segundo Valério, Lula negociou pessoalmente a dinheirama ilegal com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom. O ex-presidente e o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, combinaram que uma fornecedora da Portugal Telecom de Macau enviaria os recursos. Eles chegaram ao PT por intermédio de outras agências de publicidade. A essa altura, pode ter muito publicitário nervoso por aí, além de Valério.
Luiz Marinho e o BMG
Luiz Marinho, então chefão da CUT, intermediou as facilidades criadas para o banco BMG na concessão de empréstimos consignados. Durante 90 dias, foi o único banco privado a operar na modalidade. Em pouco tempo, o banco fez 1,4 milhão de operações, no valor total de R$ 3 bilhões. Virou líder nessa modalidade e teve a carteira comprada, depois, pela Caixa Econômica Federal. Segundo o STF, também seus empréstimos ao partido eram fraudulentos. O caso está da Justiça Federal de Minas, e Lula ainda pode ser convocado a depor. Se há lambança que traz ato de ofício assinadinho, é essa!
O caso Celso Daniel
Valério afirma que o empresário Ronan Maria Pinto cobrava R$ 6 milhões para não implicar Lula e Gilberto Carvalho no caso do assassinato do prefeito Celso Daniel.
Numa primeira reunião com Silvio Pereira, o publicitário disse que não se meteria no assunto. Mesmo assim, fez-se uma segunda, no hotel Pullman, com as presenças de Valério, Ronan, Pereira e Breno Altman. Não prosperou. Quem acabou conseguindo o dinheiro foi o pecuarista José Carlos Bumlai, único brasileiro que podia entrar no Palácio quando quisesse e na hora que quisesse. Bumlai teria acertado um empréstimo com o banco Schahin.
Humberto Costa
Valério diz que o esquema transferiu R$ 512.337,00 para a conta da campanha de Humberto Costa ao governo de Pernambuco, em 2002. O dinheiro foi repassado para tesoureira de Costa, Eristela Feitoza, que coordenou a campanha do petista também neste ano.
Concluindo
Pois é… Está tudo lá com o Ministério Público. Okamotto não quis comentar. Os demais negam envolvimento por meio de seus advogados ou diretamente. A questão agora é apurar e cobrar mais detalhes. É evidente que é o caso de considerar a hipótese de incluir Valério no programa de proteção a testemunhas desde que apresente informações consistentes. Ao país, ele vale muito mais vivo do que morto. Mas há certamente os que o prefeririam morto. E esses, por óbvio, não pensam no país. Tentam promover uma guerra suja de propaganda para livrar a própria pele.
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