Olho, IBGE, olho!
Por Pedro Luiz Rodrigues
Atenção, atenção! Está nos jornais de hoje: após a divulgação de um crescimento de 0,6% do PIB no terceiro trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu ao IBGE para revisar os dados apurados entre julho e setembro. O ministro, inconformado com a realidade, decidiu apelar. Acha que o IBGE errou, pois em seu entender não é possível que os serviços de administração, saúde e educação públicas não tenham crescido.
Funcionários e funcionárias do IBGE, lembrar-se-ão os mais veteranos de vocês de que no passado, em mais de uma ocasião, gente graúda já se irritou e bateu pézinho por dos dados e números compilados pela venerável instituição em que trabalham.
Isso pelo simples fato de a realidade não se compatibilizar com o que essas autoridades apresentam como realidade a seus presidentes ou presidentas, conforme a época.
Essa indisposição com os dados estatísticos é um fenômeno antigo e disseminado no mundo.
Políticos, ministros, autoridades de todo gênero e grau podem perceber os dados que lhes são desagradáveis de duas maneiras: a) esforçando-se para melhorar as políticas e a ação em sua área de responsabilidade, para que os números melhorem na próxima aferição, ou b) responsabilizando a metodologia ou a qualidade do trabalho estatístico.
No Brasil, felizmente, aprendemos a respeitar o trabalho do IBGE, cuja primeira raiz foi plantada em 1934. São quase oitenta anos de excelentes serviços prestados por um corpo de funcionários de inquestionável qualidade.
O pedido do ministro Mântega pode parecer inocente, como foi o primeiro pedido de revisão feito pela equipe do ex-presidente argentino Néstor Kirchner ao INDEC (Instituto Nacional de Estadísticas y Censo), em 2006.
Refeitos os cálculos, os estatísticos argentinos chegaram à conclusão de que não havia nada a ser corrigido, os números questionados estavam certos. Néstor não teve dúvidas, em janeiro de 2007 tirou os profissionais do comando da instituição e botou kirchneristas em todos os cargos de direção.
A partir daí todos os números e estatísticas de interesse do governo passaram a sair amanteigados.
E não só isso. Mais tarde, Cristina Kirchner transformaria em transgressão legal o levantamento de dados por escritórios e analistas independentes. Assim, a inflação, o PIB, o emprego, o desemprego passaram a ter os comportamento soviético determinado pelos donos do poder.
O resultado é conhecido. A partir de então - e já lá se vão quase oito anos - as estatísticas argentinas são feitas para dona Cristina sorrir e para boi dormir, só servem para tapear o próprio povo argentino, que há tanto tempo pena nas mãos de dirigentes incompetentes e irresponsáveis.
Obviamente que fora das fronteiras argentinas, ninguém dá um tostão furado pelo trabalho do INDEC. Perdeu o que há de fundamental para uma instituição do gênero: credibilidade.
O Ministro Mântega age agora, talvez até mesmo sem refletir, como o governo Kircher agiu em 2006.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, ouvido pela imprensa, já deu o recado: se revisões são habitualmente feitas pelo IBGE para corrigir desvios estatísticos, é raro haver erros expressivos. Imagine-se se depois da pressão pândega de Mântega o IBGE venha a alterar os dados questionados.
Funcionários e funcionárias do IBGE, mantenham a luta para impedir os que pretendam convertê-los num novo INDEC, num cachorrinho de rabo abanante do poder.
Bem pertinente esta análise, pois não se pode questionar a transparência nos trabalhos do IBGE, muito menos os resultados das pesquisas. O Sr. Ministro precisa cuidar da economia e concentrar esforços no crescimento econômico.Só isso e estaria fazendo um grande favor para a nação. O Sr. Mantega demonstra estar preocupado com resultados não atingidos, mas deve estar mais ainda preocupado com a queda que sofrerá do Ministério no dia 21/12/2012....
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