sábado, 8 de dezembro de 2012

"TRUCADA ARRISCADA" (NO BOLSO DO CONTRIBUINTE)

Merval Pereira, O Globo

Não há dúvidas de que a presidente Dilma “deu uma trucada” na oposição com a proposta de redução da tarifa de energia elétrica, deixando os governos tucanos de São Paulo, Minas e Paraná e o pessedista com alma democrata de Santa Catarina em situação política complicada.

Ao recusar o acordo do governo federal de renovação de concessões a preços mais baixos, os oposicionistas estão sendo identificados pela presidente como “insensíveis”, contrários, em suma, aos interesses da população.

Em 2003, por ocasião da reunião da Organização Mundial do Comércio em Cancún, no México — que paralisou as negociações da Rodada de Doha para liberalização do comércio internacional devido a um impasse que colocou o recém-criado G-20, grupo de países emergentes à época liderado pelo Brasil, em contraposição a Estados Unidos, Japão e União Europeia —, o presidente Lula disse que havíamos dado “uma trucada neles”, utilizando-se do “truco”, jogo popular de cartas, para se vangloriar de que os emergentes haviam enfrentado com êxito os “países ricos”.

Até hoje o acordo de Doha não foi alcançado e a “trucada” brasileira não passou de bravata.

Agora, ao anunciar em uma cadeia nacional de rádio e televisão a redução da tarifa de energia elétrica para consumidores de cerca de 20% sem ter combinado com os estados responsáveis pelas principais companhias de energia nem com os acionistas privados, Dilma deu mais uma demonstração da maneira intervencionista que tem de governar.

Como o governo é majoritário na Eletrobrás, obrigou a estatal a aceitar o acordo, deixando acionistas minoritários sem alternativa imediata, com um prejuízo que dificultará a manutenção de serviços e novos investimentos.

Mesmo assim, a promessa, feita no 7 de setembro como se fizesse parte das comemorações da independência, não se realizará sem que o Tesouro subsidie cerca de 6% do corte, e a presidente Dilma anunciou, orgulhosamente, que isso será feito.

Como se o dinheiro do Tesouro viesse de outro lugar que não do bolso do contribuinte brasileiro.

Quer dizer, o preço da energia será bancado em parte pelo usuário, que não terá noção do prejuízo que está sofrendo com essa decisão voluntarista da “rainha”, na visão marqueteira de João Santana.

Leia a íntegra em “Trucada” arriscada

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