O governo vem digerindo com dificuldade a previsão de que taxa de crescimento do PIB, depois dos pífios 2,7% de 2011, deverá ser inferior a 1% em 2012. Surpreendida por esse desempenho, a equipe econômica, pressionada pelo Planalto, se vê agora obrigada a engendrar racionalizações de última hora que possam explicar o fiasco.
Artigos do ministro da Fazenda e do presidente do BNDES, publicados no final do ano, bem ilustram o contorcionismo fantástico que tem pautado esse esforço desesperado de racionalização.
O ministro Guido Mantega abraçou-se a uma explicação completamente estapafúrdia. “Tenho procurado alertar para os paradoxos da fase de transição vivida pela economia brasileira. As mudanças na taxa de juros e no câmbio não têm efeitos imediatos. A economia brasileira estava ‘viciada’ em juros altos e real sobrevalorizado. É necessário, portanto, um processo temporário de ‘desintoxicação’” (“O Estado de S. Paulo”, 23/12/2012).
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A ideia de crescimento desequilibrado é inegavelmente interessante. Permite, por exemplo, entendimento mais claro da desordenada expansão da economia brasileira nos anos cinquenta.
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A ideia de crescimento desequilibrado é inegavelmente interessante. Permite, por exemplo, entendimento mais claro da desordenada expansão da economia brasileira nos anos cinquenta.
O quadro caótico que esse desordenamento trazia à então capital do País foi bem satirizado em uma conhecida marchinha de carnaval de 1954: “Rio de Janeiro/Cidade que me seduz/De dia falta água/De noite falta luz.”
O que causa espanto é que, passados 60 anos, o governo tenha decidido agora desenterrar a ideia de crescimento desequilibrado, para racionalizar o desempenho medíocre da economia.
De um lado, porque ela em nada ajuda a entender a estagnação de 2012, a não ser que a intenção do governo seja usá-la para um mea culpa sobre o investimento entravado.
De outro, porque não se pode esquecer que a campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff foi toda baseada nos supostos talentos administrativos da candidata, apresentada como “mãe do PAC” e restauradora de práticas de planejamento que levariam a um crescimento rápido e harmônico, liderado por um programa de investimentos que permitiria expansão ordenada de capacidade, a tempo e a hora.
Empenhado em justificar o fiasco, o governo parece não ter percebido que seu malcozido discurso do crescimento desequilibrado é a negação frontal de tudo isso.
Leia a íntegra em Racionalizações do fiasco
Leia a íntegra em Racionalizações do fiasco
Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio
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