Agostinho Guerreiro, O Globo
Após mais de uma década, o fantasma do apagão novamente amedronta os brasileiros. As últimas sequências de queda no fornecimento de energia elétrica, nas regiões Norte e Nordeste do país, expõem um problema que parece estar muito longe de ser resolvido: a falta de investimentos maciços no setor energético.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgou um estudo, no fim do ano passado, prevendo que serão necessários R$ 1,097 trilhão em investimentos em energia para sustentar o nosso crescimento até 2021, em um panorama de crescimento de demanda de 4,7% ao ano.
Desse valor, R$ 269 bilhões serão para a energia elétrica, sendo R$ 213 bilhões em geração e R$ 56 bilhões em transmissão.
Em 2012, a demanda dos segmentos de comércio e serviços e as residências cresceram acima do ritmo do PIB, e esse descolamento deve continuar. Enquanto a estimativa para o PIB é de crescimento de até 1%, o país consumiu 3,6% mais energia até novembro, em relação aos mesmos meses de 2011.
Os apagões trazem um clima de desconfiança sobre como o governo lida com as questões de infraestrutura, o que pode espantar investidores.
Ao mesmo tempo em que se fala em redução das tarifas, para não onerar ainda mais o setor econômico e o chamado Custo Brasil, é preciso ampliar a oferta, preferencialmente de fontes limpas.
A expansão do consumo sem o adequado desenvolvimento destas fontes traz como consequência o aumento do uso de energia gerada por termelétricas, mais caras e poluentes, o que deixa o país na contramão do que tem defendido em debates internacionais para o desenvolvimento sustentável.
É fato que a situação atual dos reservatórios de água, com níveis mais baixos dos últimos dez anos, é concreta e preocupante. Mas é preciso concentrar esforços para a modernização de todo o sistema de fornecimento de energia, desde a preservação de seu maquinário e das linhas de transmissão e distribuição, até medidas de segurança e proteção, que são cruciais para que falhas sejam reduzidas.
O governo afirma que o sistema elétrico é um dos maiores de transmissão do mundo e trabalha com um bom nível de confiabilidade.
É inadmissível que esse sistema falhe a ponto de deixar nove estados brasileiros e o Distrito Federal sob total escuridão durante horas, como ocorreu no fim do ano passado.
Superar esses entraves será crucial para que consigamos dar um salto na competitividade.
Agostinho Guerreiro é presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ)
Nenhum comentário:
Postar um comentário