Artigo intitulado " O Papa e a semântica", de KÁTIA ABREU, 51, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), publicado na Folha semana passada, cai como uma luva no dia em que o Papa deixa o comando da Igreja Católica, poucos dias após Yoani Sánchez deixar o Brasil para dar continuidade à sua decisão de mostrar ao mundo os horrores de um regime que alguns governantes ainda teimam em implantar sob o manto da "Justiça Social".
Cuba foi considerada uma localidade estratégica no tempo da Guerra Fria. A então União Soviética despejou fortunas nas mãos de Fidel para transformar a ilha numa vitrine de prosperidade, enquanto instalava mísseis para atacar seu inimigo e maior obstáculo para a conquista do mundo, os Estados Unidos.
Para sorte da humanidade, a investida fracassou, assim também fracassou a tentativa de implantar o regime no Brasil, mas o povo cubano, deslumbrado com as melhorias naquele momento, virou refém do sistema que se sustenta até hoje, apesar da derrocada do comunismo no mundo.
Leiam o artigo que trata com clareza sobre a obscuridade de certa ideologia:
Há temas que, por sua magnitude e transversalidade, perpassam diversos outros, que aparentemente lhe são estranhos. É o caso da renúncia do papa Bento 16. À parte as numerosas teorias da conspiração que a mídia mundial quis lhe atribuir, indiferente às explicações que ele próprio deu, constata-se que o entendimento do tema está contaminado por um despropósito: o conflito ideológico direita x esquerda, modernidade x ortodoxia. É intolerável que assim o seja -mas é.
Tal reducionismo, que chegou ao interior da Santa Sé, há muito inferniza a vida política e econômica dos países e se faz fortemente presente na América do Sul e, em especial, no Brasil. Se já é uma distorção em relação aos países, impensável é que se tente estendê-la à religião. Não existe religião progressista. Esse termo, altamente questionável na sua essência, não se aplica a uma instituição que tem por missão exatamente conservar um legado que se pretende eterno. É, pois, uma contradição em termos classificar um religioso de moderno ou reacionário. São categorias estranhas ao tema.
No Ocidente cristão, ninguém é obrigado a ter uma religião. Se a tem, deve aceitar seus pressupostos; se não a tem, não faz sentido pretender moldá-los, menos ainda a partir de paradigmas que lhe são inteiramente alheios. A terminologia direita-esquerda surgiu na Revolução Francesa, no fim do século 18, quando a Assembleia Nacional ganhou assento na Sala do Trono. O representante da aristocracia sentava-se à direita do rei; o da Assembleia, à esquerda. Marx valeu-se desse simbolismo para atribuir à esquerda as questões de interesse popular e à direita os da elite dominante.
Quem dera fosse tão simples. Discutir temas como economia, ambiente e até valores morais a partir desses pressupostos conspira contra o bom-senso e a eficiência. Por que, por exemplo, a economia de mercado seria de interesse apenas da elite se é ela, comprovadamente, a que gera riquezas e, por extensão, empregos a todos os segmentos sociais? Não há um só país que, ao adotar o socialismo, tenha erradicado a pobreza ou melhorado a vida do povo.
Países que embarcaram nesse equívoco -e a Rússia é o exemplo mais evidente- saíram ainda mais pobres. Não obstante, a esquerda fez de temas como justiça social, direitos humanos e até defesa do ambiente sua reserva de mercado.
A história registra algo em torno de 100 mil cubanos mortos na sequência da Revolução Socialista, num país que, à época, tinha aproximadamente 8 milhões de habitantes.
Foram cerca de 17 mil fuzilamentos e mais 80 mil assassinados em tentativas de fuga. A ditadura chilena de Augusto Pinochet contabiliza cerca de 40 mil opositores tombados -menos da metade dos cubanos- e as estatísticas oficiais falam em cerca de 3.200 mortos e desaparecidos. No entanto, Pinochet é um monstro (e não discordo disso), enquanto Fidel Castro é, na visão de alguns, um herói. O que os diferencia? Um é de "direita" e o outro de "esquerda". Os dois são detestáveis.
Na questão do ambiente, a contradição é ainda mais berrante. Conspira-se contra o produtor rural, em meio a uma demanda mundial por aumento na produção de alimentos. A ONU (Organização das Nações Unidas) avisa que, se a produção não aumentar 20% nos próximos dez anos, haverá escassez. E o Brasil é peça-chave nesse processo.
Mas a esquerda -sobretudo a ambientalista- insiste em demonizar o produtor rural. Arvora-se como única e legítima defensora dos direitos do povo, mas defende inocentemente a fome... do povo.
Esquerda e direita são, na verdade, um outro nome para extremismo e radicalismo irracionais, que já causaram muito desastre e muita dor à humanidade. Devem ser motivo de horror, e não de orgulho para quem quer que seja.
Como supor, no cristianismo, um sacerdote ou um pastor esquerdista se no Apocalipse de São João está dito que os justos sentarão à direita do Pai e os condenados à esquerda? Por aí se vê o despropósito dessa terminologia, sobretudo no âmbito religioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário