sábado, 2 de fevereiro de 2013

O ETERNO PARCEIRO

O PMDB, que acaba de eleger Renan Calheiros presidente do Senado e deve repetir a dose na Câmara, com Henrique Alves, é um partido ímpar na história política brasileira.

Um partido, em tese, se constitui para o exercício direto do poder; o PMDB, não: investe no papel de coadjuvante. Descobriu nesse veio uma engenhosa forma de garantir os interesses de seus dirigentes, sem o desgaste que o exercício direto do poder acarreta.
(...)

Pode-se ter dúvidas sobre quem será o próximo presidente da República, mas há ao menos uma sólida certeza: o PMDB será o parceiro principal, sócio vitalício do poder.

Cada estado é um feudo e cada feudo tem dono. Lá estão Jáder Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL), José Sarney (AP e MA), Henrique Alves (RN), Romero Jucá (RR), entre muitos outros.

A rigor, há apenas duas exceções relevantes a essa regra: Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), que o partido, por isso mesmo, nem contabiliza como correligionários. O grande mistério é saber por que lá permanecem.

O PMDB é a face atualizada de um velho Brasil, cujas origens remontam às capitanias hereditárias. Um Brasil que atravessou a colônia, o império, a República Velha e a Revolução de 1930.

Os coronéis-donatários modernizaram-se: usam tablets digitais, celulares de última geração, possuem redes de rádio e televisão, são donos dos principais jornais de suas capitanias.

Exercem, assim, com muito maior eficácia o papel de senhores feudais, num país de iletrados, condicionados a ver no Estado uma instância privada, da qual não são senhores, mas súditos. Trata-se, no fim das contas, de uma visão realista.

Até hoje, os brasileiros mais modestos acham que as leis trabalhistas foram gestos generosos e pessoais de Getúlio Vargas, assim como atribuem à bondade de Lula o Bolsa-Família. O populismo de direita ou de esquerda (qual a diferença?) ajusta-se como uma luva ao perfil do PMDB.

Lula, que o combateu quando na oposição, viu nele o interlocutor ideal para seu projeto político, em parceria idealizada desde o primeiro momento por José Dirceu.

Não há dobradinha mais harmônica. O partido, que é o maior do país, quer apenas a parte que lhe cabe no latifúndio do Estado, para continuar a saqueá-lo e manter seus domínios regionais.

Não tem preconceitos ou pleitos ideológicos, nem se opõe ao projeto de perpetuação do parceiro. Garantido o seu quinhão, deixa-o à vontade.

Sua única exigência, que aliás é recíproca, é a solidariedade moral em situações de flagrante delito.

Dentro desse acerto, lá estarão, por mais um biênio, Renan Calheiros no Senado, e Henrique Alves na Câmara. “A ética”, disse ontem Calheiros, “não é um fim, mas um meio”, seja lá o que isso signifique (seguramente nada que corra o risco de pô-la em cena).

Com o Congresso em tais mãos, a governabilidade – nome dado à vigência desse contrato comercial – está mais uma vez garantida. Tranquilizemo-nos todos. PT, saudações.

Leia a íntegra em O eterno parceiro

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