Responda com sinceridade e sem preconceitos contra quem quer que seja: é notícia ou não é o Procurador-Geral da República denunciar por crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos um senador da República candidato a presidir o Senado pela segunda vez?
Leve em conta que o tal senador renunciou no passado à presidência do Senado para escapar de ser cassado por quebra de decoro.
Da mesma maneira e sob a mesma condição, responda: é ou não dever da imprensa produzir uma extensa cobertura do julgamento mais longo da história do Supremo Tribunal Federal, e que poderia remeter para a cadeia cabeças do partido que mandam no país há 10 anos?
Jamais o Supremo condenara políticos à cadeia. Nem mesmo os mequetrefes. Mas vamos em frente.
A imprensa tem ou não o direito de expressar sua opinião a respeito de qualquer tema que julgue de interesse público?
De que forma ela cumprirá melhor seu papel - sendo pródiga em elogios aos poderes da República ou preferindo fiscalizá-los para apontar seus erros e defeitos?
Quem tem ideia fixa é doido. Pode também não ser. Pode estar em campanha - daí a insistência com a ideia. Qualquer ideia.
Em 1989, candidato a presidente da República, Collor se apresentou como o político ético, moralista, contra um bando de corruptos, a começar pelo presidente da República. Só quem prestava era ele.
Lula foi mais modesto do que Collor. Havia no Congresso 300 picaretas, acusou ele. Collor diria que todos no Congresso eram picaretas.
Como disse que rejeitava o apoio dos políticos. Como desprezou publicamente o apoio de empresários. Como jurou não ser político nem empresário.
Uma ideia fixa a serviço de um plano - no caso o dele, o de ocupar a vaga que Sarney deixaria no Palácio do Planalto.
O plano de Collor o empurrou para o ataque. O mais recente, de Lula e seus seguidores, para a defesa.
Até aqui esgrimam com a ideia fixa de que a imprensa existe para destruí-los, e ao PT. A ideia está a serviço do plano de desacreditar quem os ataca.
O plano começou a ser posto em prática quando o governo Lula e o PT se tornaram alvo de críticas. Antes, não.
Lembra de Lula sentadinho na bancada do Jornal Nacional sendo entrevistado ao vivo no dia seguinte à sua eleição? Tão dócil!
Mas aí veio o Caso Waldomiro Diniz - o assessor do ministro José Dirceu que antes de assumir o cargo tentou tomar dinheiro do bicheiro Cachoeira.
Veio o Caso Mensalão - o pagamento de propinas para que deputados votassem como mandava o governo.
E aí... Aí não precisaria de mais nada, não é mesmo? Embora ao mensalão tenham se seguido outros escândalos de peso.
O que fazer? O que Lula e o PT fizeram: exibirem-se como vítimas. Apontarem a imprensa como algoz. Acusarem-na de mentir, mentir e mentir.
Você tem de dar a seus correligionários argumentos para que o defendam. O argumento da imprensa golpista, a serviço da oposição ao primeiro governo com raízes populares, não deixa de ser um bom argumento. Tem aderência. E o dispensa de se defender de fato das acusações.
De resto, embora estrile, a imprensa aprecia quando apanha. Isso lhe oferece a chance de publicar as críticas como quem diz: "Veem como sou isenta?". Parece razoável.
Mas ao cabo, a verdade é que envelheceu a fórmula que serve simultaneamente aos desafetos da imprensa e a ela mesma.
Imaginem que José Dirceu, outro dia, disse que Renan é alvo de um golpe mediático. Pode? Renan? Logo ele?
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