Sintomas, apenas sintomas, por Sandro Vaia
É sintoma de alguma coisa que futuros universitários enxertem numa redação destinada a avaliar a qualidade do ensino médio trechos do hino do Palmeiras ou receitas de macarrão Miojo e sejam agraciados com notas relativamente boas e tratados com tolerância, afinal “não desrespeitaram os direitos humanos”.Também é sintoma que alunos escrevam "enchergar”, “rasoavel” e “trousse” e que existam pessoas que defendam esse modo, digamos, popular de se expressar. Se “nóis pega os peixe” é permitido e tolerado numa publicação chancelada pelo MEC, tudo o mais é lícito na destruição do idioma.
Também é sintoma de alguma coisa o fato de que tragédias anunciadas como as provocadas pelas chuvas na região serrana do Rio se repitam ano após ano sem que ninguém tome providências preventivas, ou, pior ainda, sem que sejam cumpridas as promessas de prevenção ou de reparação feitas e repetidamente anunciadas nos anos anteriores.
Sintoma de alguma coisa também é a compra pela Petrobrás, por 1,8 bilhões de dólares, de uma refinaria sucateada de Pasadena, EUA, de uma empresa belga chamada Astra Oil, que havia pago por ela 42,5 milhões de dólares.
Para tentar diminuir o prejuízo, a Petrobrás pensou em vender a refinaria, mas desistiu. O TCU está investigando o estranhíssimo negócio denunciado em junho do ano passado pela Broadcast, serviço de notícias financeiras em tempo real do Grupo Estado.
Outro sintoma de alguma coisa é a fila diária de mais de 20 quilômetros de caminhões congestionados na rodovia cônego Domenico Rangoni, que liga Cubatão ao Guarujá, e que dá acesso a terminais do porto de Santos. Ou a fila de navios esperando sua vez de atracar no porto, que se avista desde as praias do Guarujá.
Sintoma mais grave ainda é que a empresa Sunrise, o maior comercializador chinês de soja, tenha cancelado uma compra de 2 milhões de toneladas de soja - 5% do total do grão que o Brasil exporta por ano - por causa do atraso no embarque.
Sintoma também é que depois de tudo isso, o ministro Mantega dê entrevista dizendo que “precisamos aumentar a nossa produtividade”, como se isso dependesse apenas do desempenho individual de cada brasileiro, que deveria, por milagre, passar a produzir doze parafusos por dia em vez de dez, por pura força de vontade, como se educação, infraestrutura, carga tributária e etc. fossem fábulas de Esopo.
Mas tudo vai bem: o governo da presidente Dilma tem recordes de aprovação em quase tudo, menos educação, saúde, segurança, juros, impostos e taxas.
Isso também é sintoma de alguma coisa.
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