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Enquanto não há pesquisas de opinião para
estabelecer quem tem mais musculatura como candidato ao papado, o
conclave de 2013 tem pelo menos uma medida objetiva a mais que o de
2005: o desempenho anterior. Muitos dos cardeais vistos como candidatos
agora estavam também disponíveis da última vez, e alguém que teve força
há oito anos poderia ser um competidor novamente. Por essa medida
isolada, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires (Argentina),
merece alguma atenção.
Depois que
a poeira da eleição de Bento XVI assentou, vários repórteres
identificaram o jesuíta argentino como o principal desafiante do então
cardeal Joseph Ratzinger. Um eleitor disse, depois, que o conclave teve
“um quê de corrida de cavalos” entre Ratzinger e Bergoglio, e um diário
anônimo do conclave que circulava entre a mídia italiana em setembro de
2005 indicava que Bergoglio chegou a receber 40 votos na terceira
votação, a que ocorreu imediatamente antes daquela em que Ratzinger
cruzou a linha dos dois terços e se tornou papa. Embora seja difícil
dizer o quanto se pode levar isso a sério, o consenso geral é de que
Bergoglio foi realmente um candidato de peso no último conclave. Ele
chamou a atenção dos ortodoxos do Colégio de Cardeais como um homem que
conseguiu segurar os avanços das correntes liberais entre os jesuítas,
enquanto para os moderados era um símbolo do compromisso da Igreja com o
mundo em desenvolvimento.
Ainda em
2005, Bergoglio marcou muitos pontos como um intelectual dedicado, que
estudou teologia na Alemanha. Seu papel de liderança durante a crise
econômica argentina deu polimento à sua reputação de ser a voz da
ponderação e fez dele um potente símbolo do que os custos da
globalização podem representar para o mundo pobre. A proverbial
simplicidade pessoal também exerceu inegável atração – é um príncipe da
Igreja que escolheu viver em um apartamento simples em vez de habitar um
palácio episcopal, que abriu mão da limusine com motorista e prefere
usar o transporte público, e que cozinha suas próprias refeições.
(...)
Nascido em
Buenos Aires, em 1936, Bergoglio é filho de um ferroviário que emigrou
de Turim, na Itália, para a Argentina, onde teve cinco filhos. O plano
original do cardeal era ser químico, mas, em vez disso, ele ingressou em
1958 na Companhia de Jesus para começar os estudos preparatórios para a
ordenação sacerdotal. Passou boa parte do início da carreira lecionando
Literatura, Psicologia e Filosofia, e muito cedo era visto como uma
estrela em ascensão. De 1973 a 1979 foi provincial dos jesuítas na
Argentina.
Depois
disso, em 1980, tornou-se o reitor do seminário no qual havia se
formado. Eram os anos do regime militar na Argentina, quando muitos
sacerdotes, incluindo líderes jesuítas, gravitavam em torno do movimento
progressista da Teologia da Libertação. Como provincial jesuíta,
Bergoglio insistiu em um mergulho mais profundo na tradição espiritual
de Santo Inácio de Loyola, ordenando que os jesuítas continuassem seu
trabalho nas paróquias e atuassem como vigários em vez de se meterem em
“comunidades de base” e ativismo político.
(...)
Bergoglio
apoiou o ethos de justiça social do catolicismo latino-americano,
inclusive com robusta defesa dos pobres. “Vivemos na parte mais desigual
do mundo, que tem crescido muito, mas que pouco tem feito para reduzir a
miséria”, afirmou ele durante um encontro do episcopado
latino-americano em 2007. “A injusta distribuição de renda persiste,
criando uma situação de pecado social que clama aos céus e que limita as
possibilidades de uma vida plena para muitos de nossos irmãos.” Ao
mesmo tempo, ele tende mais a se empenhar pelo crescimento em graça
pessoal do que por reformas estruturais.
Bergoglio é
visto como um ortodoxo inflexível em matéria de moral sexual e como
convicto opositor do aborto, da união homossexual e da contracepção. Em
2010 ele afirmou que a adoção de crianças por gays é uma forma de
discriminação contra as crianças, o que lhe valeu uma reprimenda pública
por parte da presidente argentina Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo,
ele demonstra sempre profunda compaixão pelas vítimas da aids; em 2001,
por exemplo, visitou um sanatório para lavar e beijar os pés de 12
pacientes soropositivos.
Bergoglio
também marca pontos por sua apaixonada reposta ao atentado a bomba
ocorrido em 1994 no prédio de sete andares que abrigava a Associação
Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires. Foi um dos maiores ataques a
alvos judeus já registrados na América Latina e, em 2005, o rabino
Joseph Ehrenkranz, do Centro para a Compreensão Judaico-Cristã, ligado à
Universidade do Sagrado Coração em Fairfield, no estado norte-americano
de Connecticut, louvou a liderança de Bergoglio para superar a dor do
episódio.
“Ele estava muito preocupado com o que havia ocorrido”, disse
Ehrenkranz. “Tinha vivido a experiência.”
(...)
Bergoglio
pode ser fundamentalmente conservador em muitas questões, mas não é um
defensor dos privilégios do clero ou um homem insensível às realidades
pastorais. Em setembro de 2012, ele disparou um ataque contra os padres
que se negavam a batizar crianças nascidas fora do casamento,
classificando a recusa como uma forma de “neoclericalismo rigoroso e
hipócrita”.
(...)
Que
Bergoglio se coloca novamente como candidato parece óbvio. Um escritor
italiano, citando um cardeal anônimo, disse, no dia 2 de março, que
“quatro anos de Bergoglio seriam suficientes para mudar as coisas”.
Levando em conta seu perfil, no entanto, Bergoglio parece destinado a
cumprir um importante papel neste conclave – se não como rei, será como
fazedor de reis.
Tradução: Maria Sandra Gonçalves
Íntegra AQUI.
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