Rodrigo Constantito, O Globo
Acelerei a
minha máquina do tempo DeLorean e regressei aos anos 80. Às vezes,
precisamos mergulhar no passado para prever o futuro.
Um senhor
bigodudo era o presidente. Vi na televisão o anúncio de um novo plano
econômico, chamado “Cruzado”. Entre as principais medidas, estava o
congelamento de preços e da taxa de câmbio. Maria da Conceição Tavares,
assessora do Ministério do Planejamento, chorou de emoção diante das
câmeras da TV Globo. Literalmente.
A euforia era contagiante.
Muitos pensavam que um novo Brasil estava sendo construído, mais justo e
mais próspero. Mas a realidade...
Essa ingrata não permite que as
leis econômicas se submetam aos caprichos políticos. O congelamento de
preços levou à escassez, e nas prateleiras começaram a faltar produtos. O
que fazer?
Claro que a culpa só podia ser da ganância dos
empresários, esses insensíveis que só querem lucrar. Mas o homem do
bigode tinha a solução: caçar bois no pasto! Afinal de contas, não
podemos deixar faltar carne no açougue. Há estabelecimentos
desrespeitando o preço tabelado? Simples: fiscais do governo para
controlar esses perversos!
Alguns economistas coçavam a cabeça,
perplexos. Eles sabiam que nada daquilo funcionaria. Não se ignora as
leis econômicas impunemente.
Não eram os “desenvolvimentistas” da
Unicamp, os mercantilistas ou os adeptos da “teoria da dependência”.
Esses tinham receitas parecidas, pensando que o governo é uma espécie de
sábio clarividente que pode simplesmente decretar o progresso da nação.
Mas
o importante é constatar que havia lucidez em meio a tanta euforia
irracional. Infelizmente, tal como Cassandra, seus alertas eram
ignorados. A turma estava empolgada demais com o futuro prometido, com a
sensação de esperança. Apontar que o rei está nu é estragar a festa de
muita gente míope e embriagada.
Após essa experiência nostálgica,
retornei ao presente. Liguei a TV e vi que o bigodudo ainda estava lá,
com tanto ou mais poder concentrado nele. Vi também que aquela mesma
economista com sotaque de Portugal era extremamente respeitada e vista
como uma mentora pela própria presidente. “Memória curta dessa gente”,
pensei.
Depois notei que nossa taxa de câmbio praticamente não
oscila mais, e que a inflação fica acima da meta o tempo todo, mesmo com
crescimento pífio da economia. Mas o Banco Central nada faz, preferindo
manter a taxa de juros reduzida, claramente por razões eleitoreiras.
Em
seguida, vi o ministro Guido Mantega avisando que iria fiscalizar se as
desonerações fiscais eram mesmo repassadas para o preço final. Déjà Vu!
Tive calafrios na espinha.
Quer dizer que o próprio governo faz
de tudo para despertar o dragão inflacionário, estimulando o crédito
público, criando barreiras protecionistas, aumentando gastos, reduzindo
artificialmente os juros, e depois pensa que vai segurar a inflação com
fiscalização?
Leia mais em De volta ao passado
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário