quinta-feira, 21 de março de 2013

Deveria ser um ESCÂNDALO - DESGOVERNO DO PT DESMORALIZA O ENSINO E OS PROFESSORES

"Somos orientados a não sermos rigorosos na correção", diz avaliadora do Enem

Em entrevista, professora que avaliou redações disse estar revoltada com o processo


Em meio à polêmica sobre a correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na qual redações com receita de miojo e trechos de hinos de futebol receberam notas acima dos 50% da pontuação possível, uma das avaliadoras fez revelações que demonstram a precariedade do sistema de correção.

Em entrevista ao programa Gaúcha Repórter na tarde desta quarta-feira, a professora de língua portuguesa, cuja identidade foi preservada em função de um contrato de sigilo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que não ficou surpresa com as notas dadas às redações:

— Somos orientados a não sermos rigorosos na correção.

A explicação dos coordenadores do Enem, fornecida aos avaliadores em uma reunião, é que se houvesse um rigor maior, a reprovação seria muito alta e muitos alunos não atingiriam a nota mínima.

A professora afirmou que todos avaliadores foram orientados a não zerar os textos, e fazer todos os esforços para manter a redação dentro das notas mínimas. Os que não cumprissem com isso, poderiam ser excluídos do processo de correção:

— Dentro do que foi possível, fui o mais criteriosa possível nas redações que avaliei, mas tive meu sistema bloqueado. Essa era a ameaça.

Quando questionada sobre o processo de seleção dos avaliadores, a professora afirmou que o mesmo foi feito sem muito rigor. Ela foi chamada por uma amiga, que já fazia parte de uma das equipes de correção, e não passou por nenhum tipo de prova antes de integrar o grupo. A partir daí, passou por uma capacitação online que durou cinco semanas.

Houve somente um encontro presencial entre todos os avaliadores, cerca de um mês antes do início das correções. Nessa oportunidade, a professora e seus colegas fizeram uma manifestação para questionar as orientações que lhes haviam sido passadas.

— Foi esclarecido que os critérios já tinham sido estabelecidos pela equipe do Cespe/UnB, que é responsável pela prova, e que não cabia a nós questionar. Tínhamos que cumprir o que estava sendo orientado — comentou.

Indignada com o processo, a professora explicou que cada avaliador é obrigado a ler e dar nota a 3 mil redações em um período de um mês, quantidade considerada excessiva por ela:

— Como professora, acho que a revolta principal é por tu tentares desenvolver um trabalho sério, desenvolver as competências linguísticas, e depois ver que a avaliação não é séria, que os critérios não são rigorosos. Somos orientados inclusive a não penalizar o uso de emigrante no lugar de imigrante — desabafou.

Ouça a entrevista completa AQUI

Zero Hora – Que orientação vocês receberam para as correções das redações?
Avaliadora – Recebemos uma formação, fizemos exercícios pelos quais fomos avaliadas, tudo via online. Isso partiu da Universidade de Brasília. Foram seis, sete semanas de atividades, para os 8 mil avaliadores. No dia 14 de novembro, tivemos uma reunião em que foram repassadas as verdadeiras orientações. Fomos orientados a esquecer tudo o que se sabe, tudo o que se aprendeu, tudo o que se fez na formação. Deveríamos considerar a ideia de que é para aprovar o maior número de pessoas. Eu e a outra colega tentamos desistir, mas nosso grupo já estava um pouco defasado. Como já tínhamos nos comprometido, ficamos.
 
ZH – A senhora pensou em desistir ao ouvir as orientações?
Avaliadora – Sim, porque eu questionei o que eu estaria fazendo ali. Qual o meu papel de especialista em linguística de texto, de professora de língua portuguesa, de pesquisadora da área, se teria de fazer vista grossa e considerar uma série de absurdos?
 
ZH – Que tipo de coisas falaram que se deveria fazer vista grossa?
Avaliadora – Por exemplo, num texto, se aparecesse a palavra imigração ou imigrante, que era o tema, eu não poderia anular. Eu deveria pelo menos dar um ponto. Se ele escrevesse uma receita de bolo, mas pusesse imigração em algum momento, eu teria de considerar, não poderia anular. Outra coisa que eu fiquei muito chocada: se aparecesse um texto como poesia, ou narrativa, mas que tivesse a ver com o tema, e que se eu sentisse que em algum momento ele estava defendendo de alguma forma o ponto de vista dele, não poderia anular também, teria que dar um. A grosso modo, a orientação era essa: não anulem, só em último caso. A forma como fazem a seleção dos professores também é questionável. É tudo indicação. Ninguém te pede diploma.
 
ZH – Não se exige comprovação de formação dos professores?
Avaliadora – Não. Não existe.
 
ZH – Se alguém fingir que é professor pode ser avaliador?
Avaliadora – Pode. Se ninguém pede documentação... A inclusão parte de convites. Acho que funciona por ligações políticas. Essas pessoas são convidadas a ocupar esses cargos mais elevados e vão convidando pessoas que conhecem. Quem me convidou sabe que sou formada em Letras e faço correção há mais de 10 anos... mas será que isso ocorre no Brasil inteiro?
 
ZH – Eles chegaram a dizer explicitamente que era para evitar dar nota baixa?
Avaliadora – Sim. Que era para evitar, porque nos anos anteriores eles receberam inúmeros recursos, que tiveram que responder na Justiça, e que isso onera a União. O tiro saiu pela culatra. Me arrependo até de ter participado. Financeiramente não vale a pena. Pagam R$ 1,90 por redação, tu tens uma meta diária de cem redações (3 mil redações por mês)... para quem trabalha e gosta de fazer um trabalho qualificado é bem complicado.
 
ZH – O processo é uma enganação?
Avaliadora – Sim. É um enganar... até o candidato, em relação a suas condições. Me considero enganada. Recebi formação, manual que estudei, e numa reunião me dizem para esquecer tudo isso.

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