Ruy Fabiano
Linchamento moral, via
redes sociais da internet, tornou-se já há algum tempo instrumento de
ação política. Nas eleições, então, faz-se “o diabo”, como mencionou há
dias, com a maior naturalidade, a presidente Dilma Roussef. Mas não
apenas.
O vale-tudo não se prende a calendários: tornou-se rotina.
E o grande protagonista, sem dúvida, é o PT, que dispõe da consultoria
de especialistas para manter a militância mobilizada.
Coube ao
partido criar um clima de comoção com a visita da blogueira cubana Yoani
Sánchez, crítica dos irmãos Castro, que há mais de meio século governam
Cuba.
Antes, a militância deflagrara campanha nacional pelo
impeachment do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e agora
faz o mesmo em relação ao deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP).
Não
vem ao caso examinar o mérito (ou a ausência de) de cada qual. O que
importa, para efeito desta análise, é examinar a ambiguidade do partido,
uma espécie de esquizofrenia política deliberada. Renan Calheiros não
seria presidente do Senado sem o apoio ativo e entusiástico do PT.
Da
mesma forma, Marco Feliciano não estaria na presidência da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara sem o consentimento (e o apoio) do mesmo PT.
No primeiro caso, bem mais relevante, dada a importância do Senado para a
governabilidade, Renan é parceiro dos petistas desde o governo Lula.
A
presidente Dilma saudou sua eleição, que lhe garante algum conforto
numa Casa legislativa que lhe tem imposto alguns revezes. Lula e José
Dirceu pediram votos para Renan.
Não obstante, a militância, na
internet, fiéis a ambos, entrou em cena, pedindo o impeachment, que, por
razões óbvias, sensibilizou pessoas de boa fé, sem vínculo partidário,
que nem de longe desconfiam que o propósito da campanha não é moral, mas
político. Se Renan deixar o cargo, será sucedido pelo vice, o petista
Jorge Viana. É disso que se trata.
O caso do pastor Feliciano, não
é muito diferente: trata-se também de reciprocidade, pagamento de
dívida eleitoral. Embora a militância do PT seja hostil às religiões –
sobretudo às evangélicas, que se opõem à sua agenda comportamental -,
elas são de grande valia em tempo de campanha eleitoral.
Marco
Feliciano foi um dos muitos pastores assediados pelos articuladores da
candidatura de Dilma Roussef em 2010, para que orientasse seus fiéis a
votar no PT.
E ele cumpriu o combinado (quem quiser pode consultar
suas palavras no Youtube, pedindo votos para Dilma). Já naquela época,
ele se opunha ao casamento gay, ao aborto, extraía dízimos à revelia do
Código Penal e sustentava sua bizarra teologia em relação à raça negra
(da qual, inclusive, descende).
A dívida eleitoral está paga com
sua eleição. A campanha por sua destituição é outra história e o PT se
exime formalmente de qualquer responsabilidade, mas sabe que será
beneficiário de seu afastamento, recuperando condições de ter de volta
uma comissão que considera sua, de fato e de direito.
A vice de
Feliciano, Antonia Lucia (PSC-AC), é também evangélica e seguidora do
mesmo ideário. Se Feliciano cair, é improvável que consiga sucedê-lo.
Não
há dúvida de que colocar alguém com o perfil de Feliciano numa Comissão
de Direitos Humanos fere a lógica e o bom senso. Mas não é mais
chocante que ver o deputado João Cunha (PT-SP), condenado pelo Supremo
Tribunal Federal, presidindo a Comissão de Constituição e Justiça, onde
lhe faz companhia outro condenado do Mensalão, o deputado José Genoíno
(PT-SP).
E o que dizer do deputado Tiririca na Comissão de
Educação da Câmara? Nenhum deles, porém, corre o risco de se tornar alvo
da militância petista nas redes sociais.
A indignação é seletiva e a
moralidade só entra em cena quando convém.
Leia em Indignação seletiva
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