PT defende em resolução censura à imprensa, e Rui Falcão convida jornalistas a apoiar proposta. Exagero? Então leiam!
Por Reinaldo Azevedo
Agora é para valer. O Diretório Nacional do PT divulgou uma resolução nesta
sexta em que defende um “novo marco regulatório das comunicações”, que
vem a ser o outro nome do “controle da mídia”, mera perífrase para se
referir à censura. Eles são petistas e não desistem nunca.
O governo
Lula tentou, mais de uma vez, criar mecanismos para censurar a imprensa.
Deu com os burros n’água. Dilma Rousseff, até outro dia, dava sinais de
que não entraria nessa. Nunca se sabe. Também até outro dia, ela
reconhecia em FHC o arquiteto do Real e coisa e tal. Há duas semanas,
vem esculhambando o tucano. (...)
E Rui Falcão, presidente do PT, deixou claro que
espera contar com a colaboração dos jornalistas em seu projeto de
censura. Ele quer ver os coleguinhas botando a corda no pescoço para que
um de seus estafetas possa puxá-la quando necessário.
Na resolução, escreve o PT (em vermelho):
(…) o DN [Diretório Nacional] conclama nossa militância a coletar, este ano, mais de 1,5 milhão de assinaturas para apresentar ao Congresso Nacional um projeto de lei de iniciativa popular. O PT se associará à campanha por um Projeto de Lei de Iniciativa Popular em favor de um novo marco regulatório das comunicações, tal como proposto pela CUT, pelo Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC) e outras entidades.
(…)
O
petismo pretende apresentar uma emenda de iniciativa popular. É só uma
forma de tirar o peso das costas de Dilma. É claro que, se o governo
quisesse, impediria que uma porcaria como essa (entre outras) constasse
da resolução. Mas sabem como é.. Dilma não vai ela mesma censurar a
imprensa, mas permite que seu partido lance uma proposta cujo objetivo
esse. Faz sentido! A presidente manteve, por exemplo, o pornográfico
esquema de financiamento estatal da imprensa suja, cujos objetivos mais
do que declarados são puxar o saco do governo, atacar a oposição e
difamar o jornalismo independente.
O governo
permite, assim, que a investida petista contra a liberdade de expressão
seja lavada por uma suposta emenda de iniciativa popular.
(...)
Lá está que o petismo usará
como referência de sua luta o que foi “proposto pela CUT, pelo Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC)…” Ok! A íntegra da proposta do tal fórum, encampada pelo partido, está aqui. Destaco abaixo, em vermelho, alguns mimos do texto. Comento em azul.
O
FNDC reivindica que este Marco Regulatório leve efetivamente à regulação
da mídia, e contenha, também, mecanismos de controle, pela sociedade,
do seu conteúdo e da extrapolação de audiência que facilita a existência
dos oligopólios da comunicação que desrespeitam a pluralidade e
diversidade cultural.
Viram? A “sociedade” teria “mecanismos de
controle do conteúdo” do que é veiculado. Mas quem é “a sociedade”? Ora,
todos sabemos! Trata-se de ONGs, sindicatos, associações disso e
daquilo, movimento sociais, todos aqueles grupos que são controlados
pelo… PT!
Mas isso é pouco: seria preciso evitar a “extrapolação de
audiência”. Se uma emissora, por exemplo, começasse a ter
telespectadores demais, seria preciso dar um jeito de cortar suas
asinhas. Como? Sei lá! O tal fórum dá uma pista de como seria esse
“mecanismo de controle”. Leiam.
O
FNDC propõe inclusão, na estrutura das empresas de Rádio e TV, de
mecanismos que estimulem e permitam o controle público sobre a
programação, como conselhos com participação da sociedade, conselhos
editorais e serviços de ouvidoria.
A exemplo do que acontece na Venezuela chavista, rádios e TVs seriam comandados por “conselhos” populares, entenderam? Uma miríade de ONGs e movimentos sociais — tudo franja do petismo — decidiria a pauta do Jornal Nacional.
(...)
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O fórum também está preocupado com as criancinhas, é certo!.
(...)
Uma criança, não
sendo “assediada pelo mercado”, será assediada por quem? Por pedagogos
do partido? Trata-se de uma linguagem rançosa, boçal, velha, que
expressa uma concepção de educação que é prima pobre da doutrinação, que
já é uma lástima.
Mas entendo essas almas: depois de submeter os meios
de comunicação à censura dos “conselhos populares”, o PT quer golpear
também a sua receita publicitária. Quanto mais dependentes eles forem da
Petrobras, do Banco do Brasil, da CEF e do próprio governo federal,
melhor!
Se vocês
lerem a íntegra da proposta que o PT tomou como modelo em sua resolução,
encontrarão lá a reivindicação para que o estado passe a financiar as
produções comunitárias. E quem é a “comunidade”? Bidu! A turma do
partido.
(...)
O PT chegou ao poder com a
“mídia” que está aí — ou quase. Digo “quase” porque, na média, o
jornalismo brasileiro já foi mais crítico, menos sabujo, mais
independente, menos atrelado à pauta do partido do poder, mais corajoso,
menos pusilânime diante daqueles que se querem “os donos do povo”.
Quando na oposição, o partido jamais falou em controlar a imprensa. Ela
lhe era útil, e o partido foi uma fonte inesgotável de dossiês e
denúncias contra seus adversários. Algumas chegaram a ser estupidamente
veiculadas pela imprensa, sem qualquer comprovação, tal era a intimidade
do partido com jornalistas.
Hoje, essa
imprensa, com importantes exceções honrosas, está muito mais rendida ao
poder.
(...)
Por que a sanha autoritária, a
volúpia da censura? A resposta é óbvia: o partido quer o poder
absoluto.
Isso não significa que pretenda, sei lá, pôr a oposição na
clandestinidade. Ele só quer torná-la irrelevante, demonizando aqueles
que não se submetem à sua vontade. Lembram-se daquele blogueiro lulista
que chegou a sugerir que reportagens procurassem identificar os que
consideravam o governo ruim ou péssimo?
É fascismo na veia!
Notem,
ademais, que o “controle da mídia” voltou a ser pauta urgente e
inegociável para os petistas depois da condenação dos mensaleiros. Eles
não querem uma imprensa que possa, enfim, vigiar os seus corruptos, os
seus peculatários, os seus quadrilheiros.
Encerro
Mas Rui Falcão, mesmo
assim, quer o apoio dos jornalistas para a proposta. Diz que é tudo em
favor do mercado de trabalho e da liberdade de expressão. O PT deu uma
prova recente do que entende por pluralidade e imprensa livre: mandou
seus bate-paus para a rua para xingar e agredir Yoani Sánchez. Na
reunião que organizou a tramoia contra a blogueira, estava um homem de
Gilberto Carvalho, que vem a ser um dos dois braços esquerdos de Dilma
Rousseff.
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