terça-feira, 12 de março de 2013

O "PRIMEIRO MUNDO" É POSSÍVEL SE O ELEITOR BUSCAR ALTERNATIVAS

Roberto Freire alerta: 'Economia vai cobrar seu preço'


O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), foi o entrevistado do Roda Viva, da TV Cultura 
 
Em entrevista ao tradicional programa da TV Cultura, o presidente nacional do PPS criticou incompetência do governo Dilma e afirmou que a ‘política compensatória’ adotada sob Lula não mudou o Brasil

Por Fábio Matos

Mais uma vez no centro do Roda Viva, um dos mais importantes programas de debate da televisão brasileira, o deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS,  falou sobre as primeiras movimentações dos partidos políticos com vistas à sucessão de 2014. Questionado sobre a possibilidade de o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), se lançar na disputa, Freire afirmou que a candidatura pode se tornar uma alternativa consistente ao projeto do PT, a partir de um racha na base aliada do próprio governo. 

“Se ele vier a ser candidato, vem como alguém que rompe a base do governo pela esquerda e pode atrair outros setores. Eu não estou esperando que ele faça oposição, mas não é um candidato do governo. É uma alternativa ao governo que aí está”, disse o presidente do PPS. 

“Não acredito que Eduardo não esteja buscando sua ampliação. Ele está. As coisas estão acontecendo, é um certo fenômeno que está aí. Não sei se é o cansaço com o governo, mas vários empresários, por exemplo, começam a pensar sobre Eduardo.”

Freire lembrou que Campos é um dos possíveis candidatos à Presidência da República em 2014 que foram convidados e aceitaram participar de uma conferência política organizada pelo PPS, programada para o mês de abril, em Brasília. Além do governador pernambucano, devem participar do encontro o senador Aécio Neves (PSDB-MG), a ex-ministra Marina Silva (que tenta formar seu novo partido, a Rede Sustentabilidade) e o ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), além de outras importantes lideranças como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

“É difícil dizer agora o que vai acontecer em 2014. A gente não sabe nem se Dilma vai ser candidata. O que Lula fala hoje não se escreve amanhã. Mas temos várias alternativas e vamos fazer um congresso nacional no final do ano”, explicou Freire. 

“A abertura do debate é feita por uma conferência política, que vamos realizar em abril, para a qual foram convidados representantes do que chamamos de esquerda democrática. O que acontece é que alguns dos que chamamos, talvez pela antecipação eleitoral, sejam colocados como pré-candidatos.”

Na entrevista, o parlamentar criticou o que chamou de “tradição sebastianista” do Brasil.  
“Nós precisamos de um salvador da pátria. O Lula foi presidente e até hoje não sabemos o que ele realmente pensa. Temos que buscar saber o que os candidatos pensam sobre o Brasil”, afirmou.
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Dilma, Lula, Bolsa Família e economia

Outro tema abordado na entrevista de Roberto Freire ao Roda Viva foi o momento difícil da economia brasileira na primeira metade do governo de Dilma Rousseff. Para o presidente do PPS, apesar dos elevados índices de popularidade de Dilma, problemas econômicos graves como a estagnação do país e os repiques inflacionários podem ter influência eleitoral decisiva em 2014.

“A avaliação de Dilma pode ser boa, mas a do governo é muito ruim. A população não está tendo uma boa visão das questões básicas, como saúde, educação e segurança. É tão grande a preocupação da população que a segurança passou a ser cobrada também das prefeituras e não somente do governo do estado. Se o governo estivesse muito bem, ninguém estaria falando na sua sucessão”, afirmou Freire. 

“E a economia vai cobrar seu preço. Eu não vou dizer que será o desastre, mas uma economia que cresce 1% não pode sustentar nível de emprego alto. Isso vai cobrar um preço. Eu espero que não seja dramático.”

Freire criticou duramente o que qualificou como “funcionalidade conservadora” do programa Bolsa Família. “As pessoas começam a tomar consciência de que aquilo não representa nenhuma mudança. O Bolsa Família tem uma funcionalidade conservadora, que não muda a realidade, mesmo melhorando o presente. A política compensatória não mudou nada no Brasil”, criticou o deputado. 

“A ditadura teve votos nos grotões e parecia que nunca iríamos derrotá-los. Lula conseguiu unificar todos os coronéis.”

O parlamentar recordou que o PPS rompeu com o governo Lula, ainda no primeiro mandato do ex-presidente, por discordar da política econômica adotada naquele momento. “Nós rompemos com o governo Lula fazendo críticas à política econômica. Não rompemos por causa da corrupção, não. Até porque, na época, não havia aparecido o mensalão. Nós nem sabíamos disso”, destacou. 

Serra e fusão

O nome do ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), apoiado pelo PPS nas eleições presidenciais de 2010, também virou tema de debate durante o programa. Freire destacou a antiga relação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com o tucano e chegou a dizer que considera Serra a figura pública mais bem preparada do país. 

“A aliança em 2010 se deu muito em função de José Serra ser o candidato. É uma relação histórica que se estreitou quando ele esteve exilado no Chile, por exemplo. A relação do PCB sempre foi muito boa com o Serra”, lembrou o parlamentar.

Questionado se gostaria de ver o ex-governador no PPS, Freire foi categórico, mas também deixou claro que, neste caso, não haveria qualquer garantia de candidatura presidencial. 

“Gostaria muito [de ter Serra no partido], e há muito tempo. Factível, é sim, mas se é provável, não sei. Ninguém pode dizer que será candidato pelo PPS, mas se fizesse parte do partido nos honraria muito”, disse.
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