O Globo (Editorial)
Na última década, a política externa
brasileira se inclinou para o engajamento político, perdendo em
pragmatismo e visão de longo prazo.
O governo brasileiro fez a
discutível opção pela afinidade ideológica. Daí surgiu a diplomacia
companheira, eivada de saudosismo em relação ao mundo da Guerra Fria e
do terceiro-mundismo, na companhia da Venezuela chavista, do Equador de
Rafael Correa e da Bolívia de Evo Morales, seguidores do caudilho.
Nos
governos Lula, houve mesmo um arriscado flerte com o Irã nuclear e com a
Líbia de Kadafi, numa pueril tentativa de afrontar os EUA.
Um dos
grandes problemas da estratégia é brincar de gato e rato com a ainda
maior potência e, principalmente, maior mercado consumidor do mundo.
Pode-se argumentar que a China vem substituindo os EUA como grande
parceiro comercial do Brasil e de grande parte dos países.
Mas, em
diplomacia e comércio exterior, em que um não vive sem o outro, é muito
mais interessante a inclusão — ampliar áreas de interesse e mercados —
que a exclusão. Em várias ocasiões — nacionalização de instalações da
Petrobras na Bolívia, a difícil posição do governo brasileiro na crise
de Honduras, por exemplo —, o apelo ideológico ficou à frente dos
interesses nacionais.
O
Brasil se opôs à ampliação do Nafta, tratado comercial entre EUA,
Canadá e México, para abarcar toda a América Latina na Aliança de Livre
Comércio das Américas (Alca), por considerações enviesadas.
Preferiu
apostar na Rodada de Doha, de abertura do comércio mundial, que se
revelou infrutífera.
O fracasso de Doha acelerou uma tendência que
já se registrava para a assinatura de acordos comerciais bilaterais
entre os países.
O país não aderiu à tendência, embarcando numa
linha de isolamento. Ao mesmo tempo, o Mercosul começou a fazer água,
muito pelos problemas econômicos do principal do Brasil, a Argentina,
cujo governo kirchnerista está intoxicado pelo chavismo. E os dois
países expulsaram o Paraguai do bloco para permitir a inclusão da
Venezuela de Chávez.
Que sentido tem abrigar num bloco comercial uma nação inimiga do maior mercado consumidor do mundo, os EUA?
A sensação de que o Brasil patina aumenta quando se vê que países em
rápido desenvolvimento, como Chile, Peru, Colômbia e México, juntam
forças na Aliança do Pacífico para estimular exportações. E quando os
EUA, com aval do presidente Obama, e a União Europeia lançam as bases de
um formidável acordo comercial. Enquanto isso, um tratado idêntico
UE/Mercosul não sai do papel.
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