Dizer que as estripulias de Rosemary Noronha, alcovitada no gabinete da presidência da República em São Paulo, onde atendia as demandas de lobistas e funcionários públicos vigaristas, irá provocar algum estrago nas hostes palacianas é desejar muito para um país como o Brasil, valhacouto de políticos prevaricadores.
Além do cargo de chefe de gabinete da presidência, Rose dividia os lençóis com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu superior na estrutura governamental. No papel de segunda-dama, a escolhida de Lula desfrutava das mordomias públicas, movimentava-se em festas de caráter diplomático, frequentava, assiduamente, as aeronaves oficiais em viagens mundo afora na companhia do chefe e hospedava-se em embaixadas brasileiras.
Embora seus préstimos se dessem quase sempre na horizontal, portanto sem exigir muito esforço físico, a madame recebia tratamento de quem estava exaurida de tanto trabalho. É jurisprudência consolidada na imprensa brasileira de que esses assuntos tão delicados, que envolvem desejos carnais dos nossos homens públicos, faz parte única e exclusivamente da vida privada de cada um. Isso significa, que a madame Rosemary não era uma pessoa que passava despercebida dos jornalistas e todos ali sabiam que favores a madame prestava à República.
Em consequência de uma operação da Polícia Federal descobriu-se que Rosemary Noronha estava se aproveitando da sua intimidade com o ex-presidente Lula para, em cumplicidade com servidores públicos, traficar facilidades e saquear os cofres do erário.
Até hoje, mesmo provocado a falar, o ex-presidente Lula não se manifestou em momento algum sobre as frequentes viagens da madame, como membro da comitiva oficial e sempre aboletada em uma das aeronaves da presidência. Curiosamente, em muitas dessas viagens dona Marisa Letícia não se fazia presente. Mais curioso, ainda, é que os aposentos da madame Rose em hotéis no exterior se localizavam próximos ao do presidente. Deve ter sido mera coincidência...
E qualquer conjectura em contrário, provavelmente é pura maldade das elites conservadoras e do partido da imprensa golpista. Afinal, diriam os não moralistas, que mal existe de o presidente dar suas puladas de cerca, desopilar o fígado e minimizar o estresse do cargo na companhia de uma dama faceira e com certos apetrechos de gosto duvidoso?
A questão existe e se configura crime de prevaricação, pelo fato de que os gastos com o assanhamento presidencial saíram do bolso do contribuinte, que é quem lá na ponta paga a conta. Surge, agora, em excelente matéria da revista Veja desta semana, um relatório produzido por gente do próprio governo e portanto oficial, pedindo que a madame Rosemary Noronha seja investigada por enriquecimento ilícito.
Em mais de cem páginas, o relatório sinaliza para o cidadão comum do que os políticos são capazes. Pessoas próximas a Rose não escondem que, dependendo do rumo que o caso possa tomar, a madame pode abrir as comportas e contar coisas escabrosas. Dizem mais: que, por questões de decoro, seria conveniente tirar as crianças da sala na hora dos noticiários da televisão. O primeiro sinal já foi dado pela madame: seus advogados, ligados ao PT, foram destituídos.
(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito e colaborador do blog do Aluízio Amorim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário