O “higienismo” do PT em SP, a verdade submetida às milícias do pensamento e a democracia tutelada. Ou: Não haverá churrasco da gente diferenciada desta vez?
Por Reinaldo Azevedo
Ai, ai. O Estadão Online publica uma reportagem, às 2h06 desta manhã, assinada por Bruno Paes Manso, que traz alguns aspectos espantosos. Leiam. Comento em seguida.
Subprefeitura e PM criam ‘tolerância zero’ a moradores de rua na zona leste
Barracas nas ruas, colchões sobre as calçadas, fogueirinhas para refeições e moradias provisórias. Nada disso mais é admitido nas ruas da Mooca e do Brás, na zona leste de São Paulo, onde as autoridades declararam “tolerância zero” a crime, lixo e moradores de rua.
O termo foi escolhido pelo capitão Aldrin Córpas, da Polícia Militar, para as operações que passou a fazer em apoio aos trabalhos de limpeza urbana da Subprefeitura da Mooca. Ele ainda postou fotos do “tolerância zero da Mooca” no Facebook, pedindo apoio da população.
A forma como as autoridades estão desempenhando a tarefa, contudo, causou polêmica. Parte dos moradores aplaude o trabalho da Prefeitura e da PM, como mostram as mensagens que Córpas recebeu em sua página pessoal na rede social.
Outros criticam a truculência das operações. O padre Julio Lancellotti, Vigário para o Povo da Rua, também protestou pela maneira como as abordagens estão sendo feitas. Documentos e pertences pessoais são levados, como o de uma moradora de rua que teve levada a bolsa com a última foto que tinha da mãe. “É uma antiga visão higienista da sociedade, que permanece”, diz.
Eliana Andreassa, de 37 anos, é uma das moradoras dos arredores do Viaduto Bresser que perdeu documentos nas abordagens municipais.
Ela chegou a São Paulo faz três meses, vinda de Dois Córregos, no interior do Estado. “Eles disseram que era para recolher meus objetos pessoais. Corri, mas não deu tempo de pegar a minha bolsa com meus documentos. Agora, preciso retirar os documentos para ir embora para casa”, disse.
Problema socialO subprefeito da Mooca, Francisco Carlos Ricardo, afirma que realmente intensificou a operação de limpeza urbana. De acordo com os números da subprefeitura da Mooca, existem 71 vagas fixas em equipamentos para moradores de rua na região. O subprefeito diz que suas operações são de limpeza urbana e que não buscam atingir os moradores de rua. “É um problema social e eles devem ser encaminhados aos serviços sociais do Município”, diz o subprefeito, que não sabia que a PM do bairro denominava a operação como tolerância zero.
A PM disse que não iria se manifestar porque agiu em apoio à subprefeitura. O capitão Aldrin também não falou. Depois de procurado, ele retirou de sua página pessoal as informações sobre o tolerância zero.
Voltei
A Polícia Militar não realiza operação nenhuma; tampouco criou “tolerância zero”. Essa é uma decisão da Prefeitura de São Paulo, comandada pelo senhor Fernando Haddad, do PT.
Tentar dividir com a PM a responsabilidade da ação é só uma forma de tirar parte do peso dos ombros dos petistas e de satanizar, uma vez mais, a corporação.
A Polícia Militar, como está claro, realiza o trabalho de apoio a uma política decidida pela Prefeitura. O fato de um policial militar postar uma mensagem no Facebook exaltando a operação não torna a PM coautora da ação.
Dá para imaginar a gritaria se o prefeito fosse Kassab, Serra ou até mesmo Marta. Mas quê… Quem está lá é o Supercoxinha.
E aí é preciso observar que a maior parte da população, claro!, aplaude a “limpeza urbana”. Padre Júlio, o “Vigário de Rua”, pronuncia a sua palavra predileta — “higienismo” — , mas não sai atirando contra a Prefeitura; é bem discreto. Afinal, é seu partido que está no poder.
O subprefeito da Mooca, Francisco Carlos Ricardo, defende a operação e diz que há lugares para os moradores de rua. Ponto! Como havia antes. E, desta vez, não vai aparecer petista com apito para impedir a operação.
Fosse essa uma gestão não petista, a tropa de choque do partido, alguns de seus vereadores, esquerdistas no geral e alguns xexelentos com banho de três dias logo proporiam um “churrasco da gente diferenciada” na Mooca, certo? Os “politicólogos” da legenda escreveriam artigos para os jornais, blogs e sites; as TVs documentariam meticulosamente as operações e transformariam cada morador de rua numa personagem.
Os tontos quase nunca entendem
Os tontos quase nunca entendem a razão principal por que critico essa gente. Se o seu ideário fosse sincero, eu continuaria a discordar, mas teria mais respeito. Ocorre que não é. Os petistas tentaram impedir, como se sabe, a retomada da Cracolândia pelo estado de direito. Opuseram-se a todas as iniciativas de outras gestões para tirar moradores da rua. Inventaram até, com a ajuda da imprensa, expressões como “rampa antimendigo” e “banco antimendigo”. Um colunista de jornal chegou a distorcer um autor francês para dizer que o único direito que igualava pobres e ricos era o de dormir sob as pontes.
O PT empreenderá a sua “limpeza urbana”, os moradores da Mooca vão aplaudir porque o passeio público não é mesmo lugar de moradia, as esquerdas vão jogar a responsabilidade nas costas da PM, ninguém vai organizar um protesto, e a imprensa companheira, pois, não vai se interessar pelo assunto.
O PT usa os moradores de rua, agora, para sequestrar os eleitores de outros partidos.
Esse é um sintoma do que chamo “democracia tutelada”. Tutelada pelos donos da verdade. Em setembro de 2009, num comício em favor de Dilma Rousseff (ilegal, porque antes da hora), o chefe da turma, Luiz Inácio Apedeuta da Silva, afirmou: “Nós somos a opinião pública”. Para encerrar: estivesse na Prefeitura um tucano, Gilberto Carvalho, o ministro encarregado do “diálogo” com os movimentos sociais, e a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) já teriam se manifestado — contra o prefeito, é claro!
Em suma, o ideário dessa gente me incomoda bem menos do que a falta de vergonha.
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