Não foi em abril que os alimentos deram a trégua esperada aos consumidores. A pressão desses itens, aliada ao reajuste de remédios e ao custo dos serviços em alta, fizeram com que o IPCA subisse 0,55% em abril frente a março, quando foi de 0,47%, e superasse as projeções de analistas, que previam um aumento de 0,48%. Com isso, a inflação em 12 meses está praticamente no teto da meta estabelecida pelo governo: acumula alta de 6,49%, enquanto o limite perseguido pelo governo é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para baixo ou para cima, isto é, até um máximo de 6,5%. Em abril, a inflação acumulada em 12 meses chegou a superar o teto da meta, indo a 6,59%.
Os preços de alimentos ficaram acima do previsto. Eles tiveram apenas uma leve desaceleração e passaram de 1,14%, em março, para 0,96% em abril. Em 12 meses, sobem 13,99%. Os produtos in natura (hortaliças, legumes e frutas), que sofrem com problemas climáticos e aumento do custo do frete, aceleraram os preços no mês passado. O tomate, que havia ficado 6,14% mais caro em março, subiu ainda com mais força em abril: 7,39%.
Com isso, o produto, cuja alta de preços virou piada na internet e que chegou a ser boicotado em restaurantes, já acumula alta de 149,69%. Em 12 meses, a batata sobe 123,48%. A cebola, 94,18%.
Alimentos já respondem por mais da metade da inflação acumulada no ano. Eles correspondem a 1,35 ponto percentual da alta de 2,5% do IPCA entre janeiro e abril. No ano passado, no mesmo período, eles tiveram participação mais modesta, respondendo por 0,42 ponto percentual de um IPCA cujo avanço ficou em 1,87%. - Os alimentos têm um peso muito grande nos orçamentos das famílias e continuaram subindo com força. Quando estão altos, há menos renda para se comprar outros itens - afirma Eulina Nunes, da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.
Por outro lado, a desoneração da cesta básica ampliou as deflações de produtos como o açúcar refinado, que passou de -1,06%, em março, para -4,50%, em abril. O óleo de soja caiu 2,87%, acima da queda de 1,53% do mês anterior. O frango inteiro caiu 1,92%, depois de registrar alta de 0,17% em março. As oito principais quedas entre os alimentos, juntas, tiveram um impacto de -0,10 ponto percentual no índice. Eulina Nunes frisa, no entanto, que nem toda a redução de preços se refere ao efeito da desoneração, outros fatores também influenciaram.
Os remédios, que tiveram reajuste autorizado em abril, subiram 2,99%. Responderam por 0,10 ponto percentual da inflação, na maior contribuição individual ao índice de abril. Pressões de demanda também pesaram na inflação. Os preços dos serviços subiram 0,54% e já acumulam alta de 8,13% nos últimos 12 meses o que, segundo analistas, é preocupante.
O empregado doméstico subiu 1,25% em abril, mas esta alta não reflete a mudança na legislação que ampliou o direito dos trabalhadores do setor, mas aumentou os custos dos empregadores. No índice de inflação, o IBGE mede o preço do serviço doméstico a partir do salário destes empregados, e não pelo custo do patrão com despesas como INSS ou hora extra. Nos últimos 12 meses, o empregado doméstico sobe 11,32%, devido à menor oferta de trabalhadores no setor.
Apesar de a inflação ter subido acima do previsto, analistas não revisaram suas projeções para o comportamento dos preços este ano. Também não mudaram suas apostas para a trajetória da taxa básica de juros Selic, hoje em 7,5% ao ano. A projeção é que o Banco Central (BC) continue a elevar os juros em 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Para o IPCA, os analistas esperam alívio no segundo semestre, com a inflação fechando o ano em alta entre 5,4% e 6%.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o BC não tem tido sucesso em deter expectativas de inflação. - Acho improvável a inflação voltar ao centro da meta nos próximos anos. Combate-se inflação com política monetária e não com política fiscal. É um cenário de inflação preocupante e que vai continuar com um risco grande que está contaminando as expectativas - afirma Vale. Para o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno, a inflação ainda permanece muito disseminada e exige atuação do BC, que, no entanto, deve continuar no compasso de 0,25 ponto de alta.- Continuamos com um ambiente de demanda doméstica aquecida e a tendência é que os serviços permaneçam pressionados - afirma o economista.
A economista-chefe da Tendências consultoria, Alessandra Ribeiro, espera por mais três elevações de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, atualmente em 7,5% ao ano.- O BC brasileiro deve agir com cautela porque isso poderia gerar um movimento de apreciação do real que claramente o governo não quer - afirma. O economista da INVX Global Partners Eduardo Velho estima que, apesar de existir uma resistência dos alimentos em abril, os preços no atacado apontam para um ambiente mais benigno em maio.
Ontem, a Fundação Getulio Vargas informou que o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou deflação de 0,06% em abril. Os preços no atacado caíram 0,39%. A inflação ao consumidor, pelo IGP-DI, subiu 0,52%.
(O Globo)
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