sábado, 4 de maio de 2013

O PAÍS DA DIVERGÊNCIA PERDIDA

No Brasil, conservadores e até reacionários resolveram ser ecologistas, abortistas, gayzistas, emessetistas, quilombolistas, ateístas, antirruralistas, indianistas, maconheristas… É o país da divergência perdida!

Reinaldo Azevedo

Por que tanto as esquerdas tradicionais (ou seus herdeiros de pensamento) como antigas e sólidas reputações conservadoras estão hoje em dia juntas, a defender uma mesma agenda? 

Vocês notaram como pessoas as mais díspares, das origens as mais variadas, ligadas aos setores os mais diversos, se tornaram ecologistas? 

Repararam como a defesa da legalização do aborto se tornou um dos denominadores comuns tanto daquele que se quer ainda um comunista revolucionário como de seu suposto antípoda de classe? 

Perceberam como o tema da descriminação da droga mobiliza parte da academia, a quase totalidade da imprensa (da base à cúpula), os que se querem ultraliberais e também os esquerdistas? 

Já se deram conta de que as questões relacionadas à sexualidade parecem, a se dar crédito àquilo que se lê na grande imprensa, navegar no mar calmo do consenso, exceção feita, claro!, àqueles que são tachados de “fundamentalistas religiosos”? 

Já atinaram como as cotas raciais juntam bancário e banqueiro? 

E outros temas poderiam ser aqui listados, a unir gregos e troianos, como o ódio ao agronegócio, a defesa dos quilombolas, a tolerância com as violências do MST… Por quê?
Um inocente e um sujeito de não muito boa-fé poderiam dar a mesma resposta: “Ah, Reinaldo, é porque essas questões não têm ideologia; são apenas matéria de bom senso; são bens universais”. Uma ova! No mundo inteiro, temas dessa natureza dividem a sociedade, dividem os partidos, dividem até mesmo as ideologias. Qual é o busílis no Brasil? O que se passa em Banânia? Vou tentar responder à questão. Antes, algumas considerações gerais.
Liberdade e igualdade
Por mais que repudie hoje em dia — e já há muito tempo — o ideário da esquerda socialista, reconheço que, por muitos anos, houve esquerdistas sinceros, e talvez os haja ainda, não sei, embora eu não compreenda que alguém possa, racionalmente, sobrepor o valor da igualdade ao da liberdade. 

É claro que, até certo ponto, ambos são conciliáveis, e a medida possível da igualdade para que a liberdade não comece a pagar seu preço é aquela que deve haver perante a lei. Se a própria lei, no entanto, como já começa a acontecer no Brasil sob o silêncio cúmplice e unânime das forças políticas, estabelece a desigualdade como fundamento, sob o pretexto de corrigir injustiças, é a liberdade que está potencialmente ameaçada.
Nunca houve um regime socialista e ao mesmo tempo democrático porque só se pode impor a igualdade violando a nossa natureza. Disse-me um estudioso da alma humana dia desses, ao estabelecer diferenças entre várias correntes da psicologia: “Eles [referia-se a correntes às quais se opõe] ficaram bravos conosco porque demonstramos que o homem se parece mais com um ratinho do que com Deus”. 

Em muitos aspectos, acho que ele está certo, e é por isso que as terapias comportamentais tendem a ser mais eficientes do que aquelas que pretendem nos virar do avesso.
Mas uma coisa não é menos evidente: desde Prometeu, tudo o que há por aí só há porque temos a ambição de ser Deus — e operamos esses milagres com aquela pequena parcela que nos diferencia do rato. O homem só cabe num molde, o da liberdade, porque a natureza (ou o Altíssimo, para os religiosos) não lhe deu outra escolha que não… poder escolher. O livre-arbítrio, assim, nos condena à liberdade — inclusive, na visão religiosa, à liberdade do pecado.
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Agora, ao ponto
Mas e os “neoprogressistas”, hein? E aqueles que aderiam àquela agenda supostamente universal e sem pecados lá do primeiro parágrafo? O que buscam com a sua conversão à causa da ecologia, da legalização do aborto, da descriminação da droga, da igualdade de gêneros (ou seja lá como se chame), das cotas, dos índios, dos quilombolas, dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-aquilo-que-nos-faria-felizes (seja lá o que for…)? 
Noto que não é uma adesão que permite o debate e o exercício do contraditório. Nada disso! A exemplo do que acontece com toda militância sectária, a divergência é demonizada, reduzida à dimensão de uma caricatura. Um projeto que endurece a lei antidrogas, como o de Osmar Terra (PMDB-RS), é tratado como se fosse uma peça de uma escalada fascista. Acusam-no de criar até um cadastro de consumidores, o que é falso. Um projeto de Decreto Legislativo que derruba uma portaria realmente fascistoide de um conselho profissional ganha pecha de “projeto de cura gay”, e isso, que é uma militância, não um fato, é oferecido ao leitor como se fosse notícia.
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Há uma renúncia quase generalizada ao ideário que construiu a imprensa livre em nome das “causas” supostamente universais. E ninguém pode ser universal fazendo as vontades de corporações de ofício ou de corporações do pensamento. Ninguém  pode ser universal cumprindo uma pauta que é de natureza sindical — ainda que sejam sindicatos, sei lá, de comportamento. Ninguém pode ser universal atribuindo a entes de razão o poder de definir a verdade. 
(...)

Boa parte da grande imprensa opta por uma abordagem cada vez mais próxima daquela feita pelos blogs sujos, financiados por estatais. Aproximam-se perigosamente tanto na pauta dita “progressista” como no oficialismo.
É claro que os petistas, assim, nadam de braçada. Até mesmo a sua pregação em favor da impunidade já encontra guarida na cobertura cotidiana da imprensa. Dias antes de ser publicado o acórdão, a turma de Zé Dirceu pautou quem quis, como quis, com as temas que quis. E o alvo era sempre o STF.
Leia na íntegra AQUI.

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