Ruy Fabiano
O profeta Gilberto Carvalho bem que avisou, no final do ano passado: “Em 2013 o bicho vai pegar”. Já pegou.
Os distúrbios originados em São Paulo, e que se alastraram por diversas capitais, tendo como pretexto aumentos irrisórios nas passagens de ônibus, não são o primeiro – e provavelmente não serão o último – sinal de que o bicho está solto.
Basta ver as igualmente orquestradas invasões de terras produtivas e devidamente tituladas (algumas há mais de um século) por índios e sem-terra no início do mês, igualmente secundadas por ações policiais, que resultaram em violência.
Quem (e por que) soltou o bicho? No caso dos índios, o ministro Gilberto Carvalho deu sua contribuição, garantindo a lideranças indígenas que ficassem tranquilas, que a lei não seria cumprida, isto é, que não seria feita a reintegração de posse.
Não há maior estímulo à violência que a garantia de impunidade.
Mas voltemos aos protestos de São Paulo (que agora já se reproduzem em diversas capitais).
Mas voltemos aos protestos de São Paulo (que agora já se reproduzem em diversas capitais).
Os que acreditam que os atos de vandalismo que marcaram o início do movimento foram espontâneos e de natureza popular estão vendo o filme errado. Trata-se de mais um capítulo escrito para a campanha eleitoral do ano que vem.
A violência policial, previsível e desejada pelos organizadores dos protestos, não é causa, mas consequência da ação dos arquitetos da violência. Quando o choque se estabelece, é inútil supor que a civilidade prevalecerá. Quando se “solta o bicho”, todos, envolvidos ou não no conflito, correm risco.
E aí não faz sentido reclamar da ação policial, criticá-la como uma aberração em si mesma, quando é efeito de uma provocação que buscava exatamente pô-la em cena.
Toda violência é reprovável, mas a responsabilidade maior cabe a quem a provoca. Não se pode reclamar das consequências, sem considerar as causas, que obviamente a precedem.
Não há povo no comando. Basta que se examine o perfil socioeconômico dos que lideram o movimento, a que muitos aderiram de boa fé. A Folha de S. Paulo de anteontem menciona, entre os líderes do movimento, gente que reside no milionário condomínio de Alphaville – e que seguramente não usa ônibus.
Ainda que os usassem, não faria sentido, dentro da mais elementar lógica do custo-benefício, expor-se a tais riscos pelo acréscimo de dez centavos no preço da passagem (o aumento foi de 20 centavos, mas, como estudante paga meia, o aumento real para os que protestam é de apenas dez centavos).
Depredaram lojas, picharam ônibus, perturbaram a vida dos transeuntes e passageiros (estes, sim, gente do povo), em nome de uma causa insustentável: a gratuidade do transporte público. Sabe-se que não há jantar grátis. Alguém sempre paga a conta.
No caso em pauta, se a gratuidade se estabelecesse, o custo reverteria em aumento de impostos, a ser bancado pela população, em nome de quem os líderes do movimento Passe Livre – vinculados ao PT e a partidos de esquerda, como PSOL e PSTU -, mesmo sem qualquer delegação, pretendem falar.
Jornais e telejornais de anteontem – terceiro dia dos protestos - exibiram cenas de linchamento de um único PM, Wanderley Vignoli, por um grupo de onze manifestantes.
Deixaram-no sangrando na cabeça e o desfecho só não foi pior porque, a certa altura, o agredido sacou de seu revólver, do qual não fez uso, e conseguiu dispersar seus agressores.
Era inevitável que a radicalização se estabelecesse. No dia seguinte, a ação policial, que nos dois primeiros dias havia sido pacífica, foi truculenta, atingiu gente inocente, inclusive jornalistas que faziam a cobertura da manifestação.
Chegou-se ao que as lideranças queriam: ao irracionalismo.
As vítimas da violência policial são exibidas como troféus, como se atestassem a condição de vítima dos que bolaram todo aquele vandalismo. Também essas vítimas devem ser debitadas à conta das lideranças do falso protesto, mero pretexto para radicalizar a cena política e preparar o ambiente da próxima campanha eleitoral.
As vítimas da violência policial são exibidas como troféus, como se atestassem a condição de vítima dos que bolaram todo aquele vandalismo. Também essas vítimas devem ser debitadas à conta das lideranças do falso protesto, mero pretexto para radicalizar a cena política e preparar o ambiente da próxima campanha eleitoral.
São esses personagens – a classe média que odeia a classe média - que colocaram o cassetete e as pistolas de bala de borracha na mão da PM. E, em nome do povo, conseguiram tornar ainda mais infernal sua rotina.
Leia em Arquitetura da violência
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