Alvaro Gribel e Valéria Maniero, O Globo
Foi uma semana ruim para a economia brasileira. O Banco Central reconheceu que a inflação está alta e deve subir mais os juros; a S&P colocou a nota do país em viés negativo; o IPCA voltou ao limite da meta.
As notícias reforçam sinais dados por outros indicadores que vêm piorando há um bom tempo. O PIB desacelerou, a balança comercial encolheu, as taxas de poupança e de investimento caíram.
A bolsa não reage e continua longe do recorde de 73 mil pontos. Caiu ontem a 51 mil. A indústria continua 1,8% abaixo de maio de 2011. O déficit em conta corrente chegou a 3% do PIB e já não é mais inteiramente financiado pelo Investimento Estrangeiro. Voltamos a depender de capital especulativo.
Vários setores ficaram muito tempo travados. Aconteceu com o petróleo e ainda acontece com a mineração. O setor de energia mudou o marco regulatório em tempo recorde e gerou insegurança.
O estímulo ao consumo elevou as dívidas, e a inadimplência subiu no melhor momento do mercado de trabalho. A inflação tem tirado o ímpeto do consumo. Não são poucos os sinais de que algo está fora do lugar.
O economista Mário Mesquita, ex-diretor do BC e sócio do banco de investimentos Brasil Plural, avalia que, de tudo, a política fiscal foi a que mais perdeu credibilidade. Mesquita lembra que hoje é preciso expurgar números para se saber qual é o superávit primário e explica que a dívida líquida deixou de ser referência:
— Houve abalos ao tripé macroeconômico sem que se tenha colocado nada no lugar. Enquanto a dívida líquida descontava as reservas, era uma coisa. Agora, descontam-se empréstimos a entidades públicas. Começou em 2010. O governo vai usar bônus do pré-sal para ajudar no primário. Vamos queimar poupança para financiar gasto corrente. As contas estaduais, pouco a pouco, estão perdendo as amarras.
Pelo lado positivo, ele cita que melhoraram as reservas cambiais, a taxa de desemprego, e a confiança dos consumidores tem se sustentado. Mas, no conjunto, há muito mais indicadores que ficaram piores nos últimos anos.
— A política monetária deu sinais de que está preocupada com a credibilidade. Mas, no lado fiscal, ainda não há nenhuma indicação disso.
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