Demétrio Magnoli
E do caos fez-se o protesto. No início, manifestações pequenas degeneraram, previsivelmente, em violência e depredação. Truculências policiais, uma vaia avassaladora contra Dilma Rousseff e manifestações com outra pauta, sobre os gastos públicos na farra da Copa do Mundo, pontuaram o estágio intermediário.
Enfim, protestos multitudinários tomaram as ruas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e de Brasília.
A sequência desafia a lógica convencional e escapa às ferramentas de tradução dos políticos, mas lança alguma luz sobre uma crise larvar que, agora, emergiu. Bem na hora em que o Palácio do Planalto preparava-se para tocar novamente uma velha canção da Copa do Mundo de 1970, o céu desabou.
Nada houve de espontâneo na etapa inicial. Os movimentos pelo “passe livre” são constituídos por autointitulados “anarquistas”, seitas esquerdistas e jovens indignados que se movem à margem dos aparelhos da esquerda oficial (PT, PCdoB, sindicatos, UNE). Nas franjas dos movimentos, circulam bandos de punks à caça de oportunidades para confrontos com a polícia.
O “passe livre”, uma utopia socialmente reacionária, funcionava como pretexto para quimeras diversas: a “superação do capitalismo”, a “revolução proletária”, a “guerra urbana”.
As vergonhosas distorções de nossos sistemas de transporte coletivo — avessos à transparência, hostis aos usuários, pontilhados de privilégios, curvados pela associação oculta entre empresas de ônibus e políticos — não interessam realmente aos grupos radicalizados que protagonizaram as primeiras manifestações.
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Mas a escala faz a diferença: quando dezenas de milhares foram às ruas, os encapuzados viram-se reduzidos à insignificância e, quase sempre, à impotência.
“Não é por centavos, é por direitos”, esclarecia uma faixa no Rio de Janeiro. “Brasil, vamos acordar, o professor vale mais que o Neymar”, cantou-se em São Paulo.
A desmoralização da ágora — eis a pior herança do lulopetismo. O governo Lula cooptou os movimentos sociais, convertendo-os em marionetes de suas ambições eleitorais, e reforçou os grilhões que prendem o movimento sindical ao poder de Estado.
Na segunda-feira, o “passe livre” já era só um pretexto coletivo para manifestações ...(...)
A desmoralização da ágora — eis a pior herança do lulopetismo. O governo Lula cooptou os movimentos sociais, convertendo-os em marionetes de suas ambições eleitorais, e reforçou os grilhões que prendem o movimento sindical ao poder de Estado.
No governo Dilma, completou-se a construção de uma esmagadora maioria parlamentar alicerçada sobre a distribuição de sesmarias na administração direta e nas empresas estatais.
Leia a íntegra em Protesto
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