A imprensa agora virou central de convocação de protesto. Deve ser um novo entendimento da isenção e do partidarismo
Reinaldo Azevedo
Marque qualquer porcaria no Facebook. Invente aí: protesto contra uma escola que desestimule o uso de saia por gente de perna peluda, protesto contra o papa, contra o estatuto do nascituro, contra a Lei da Gravidade… Se estiver adequada à pauta dos militantes alojados nas redações, ganhará divulgação e receberá a chancela de “coisa séria”.
Por que isso? Leio na homepage do Estadão o seguinte título: “Protesto contra o Estatuto do Nascituro em SP é organizado nas redes sociais”. Pensei: “Pô, mas já aconteceu um protesto?” Não, é claro! Fui ler o texto. Prestem atenção:
Aprovado na quarta-feira, 5, na Comissão de Finanças da Câmara, o projeto que visa a instituir o Estatuto do Nascituro – que dá direitos ao embrião e cria incentivos com o objetivo de evitar abortos mesmo em casos que hoje são autorizados – vem sofrendo oposição nas redes sociais. Pelo Facebook, cerca de 10 mil pessoas confirmaram até a manhã desta segunda-feira, 10, presença em um protesto que será feito no sábado, 15, às 13h, na Praça da Sé, em São Paulo. De acordo com o projeto, nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não nascido. O Ato Contra o Estatuto do Nascituro será pacífico e terá distribuição de panfletos e falas de militantes feministas engajadas na luta pela legalização do aborto, segundo as organizadoras, que administram a página “O machismo nosso de cada dia” no Facebook.
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Voltei
Bem, em primeiro lugar, folgo em saber que o ato será pacífico. Que bom! Gente fanática por perseguir fetos, que não podem correr nem reagir, prometem ser pacíficas com os que podem porque tiveram, ao menos, o direito ao nascimento.
Em segundo lugar, noto que o “ato” ainda está na fase da “convocação”.
Se alguém estivesse planejamento um em favor do estatuto e contra o aborto, é certo que não seria notícia.
Aliás, na quarta-feira, 70 mil pessoas se manifestaram contra o aborto em Brasília — era um dos itens da pauta dos evangélicos. A imprensa escondeu o protesto.
Há só uma coisa positiva em tudo isso. A verdade veio à tona. Escrevi alguns posts demonstrando que os protestos contra o Estatuto do Nascituro nada tinham a ver com a possibilidade de auxílio às mulheres que, mesmo tendo engravidado numa relação não consensual, decorrente do estupro, se neguem a abortar. Isso tudo era falso pretexto.
Os que rejeitam o Estatuto são mesmo é militantes em favor do aborto.
A reportagem do Estadão ao menos evidencia isso, não é? Podem aguardar: reúna 500 pessoas ou 500 mil, a cobertura jornalística para o evento já está assegurada. Já os 70 mil de Brasília dizendo “não” em coro ao aborto — e pedindo cadeia para os mensaleiros, não custa lembrar — foram eliminados do mundo dos fatos por certa imprensa.
É o chamado jornalismo isento e apartidário — desde que as pessoas estejam “do lado certo”, entenderam?
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