domingo, 14 de julho de 2013

A INIMIGA DAS RUAS NÃO PODE SER A DEMOCRACIA

Foto: Desviando o foco mais uma vez dona Dilma?





Após as ondas gigantescas de manifestações, o Congresso Nacional promoveu um verdadeiro tsunami de votação de projetos e medidas que vêm atendendo às necessidades dos brasileiros. Se a marquetagem do Palácio do Planalto tentou jogar a crise no colo do Congresso, dessa vez não funcionou. 

Tanto é que a popularidade de Dilma vem despencando porque nosso povo está aprendendo a responsabilizar quem está no comando.

Visivelmente irritado, a reação do governo petista, na voz do ministro Aloizio Mercadante, aconteceu em entrevista na qual disse que o eleitor vai "cobrar caro" do Congresso se a reforma política não for realizada com participação popular por meio de plebiscito.

Em entrevista à Folha e ao UOL, Mercadante, o articulador mais próximo da presidente, fala em tom de ameaça e prevê uma "renovação forte" no Legislativo em 2014 no caso de o Congresso se recusar a melhorar o sistema político.

Mais uma vez, tenta-se jogar para o Congresso a responsabilidade por respostas às vozes das ruas, que aparentemente se aquietaram, mas continuam fervendo nas redes sociais.

A ideia do plebiscito felizmente foi rejeitada por dois fatores: o fato de Dilma fazer o anúncio depois de reunião com o marqueteiro, porém sem consultar o Congresso, a quem cabe a iniciativa, e o prazo de 70 dias estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral para organizar a votação. Mas o Congresso não está se negando a consultar a população, como insinua Mercadante. A Câmara criou um grupo de trabalho para discutir uma reforma política que poderá ser submetida a um referendo.

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), disse que o plebiscito foi um equívoco e provocou: "Nas manifestações vi cartazes vendendo até um Monza 92, mas não vi nenhum pedindo plebiscito, reforma política".

O líder do PSB, Beto Albuquerque (RS), reforçou: "Isso não estava nas placas. O PT não pode só consultar suas bases, tem que ouvir as ruas".

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que o governo também será cobrado pelas ruas: "É uma declaração que ele tem direito de fazer. Além de ministro, ele é senador, portanto é uma avaliação que respeito. Mas a cobrança é natural que seja feita, é democrática, é ao Executivo também, aos Executivos estaduais. Isso faz parte do processo democrático".

A fala do petista foi bastante criticada na oposição: "Sr. Mercadante, não queira jogar a falência do governo Dilma nas costas do Congresso. Quem não investe em educação, saúde, segurança e combate à corrupção é a presidente Dilma", disse o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).

A reação à altura é importante para os políticos e para a Democracia, pois os dados nacionais sobre percepção de corrupção – obtidos após entrevistas recentes com 2.002 pessoas – mostraram que, depois dos partidos, o Congresso é a segunda instituição mais desacreditada. Cerca de 72% da população o classificam como “corrupto ou muito corrupto”. Na média mundial – foram 114 mil entrevistas –, o índice é de 57%.



A pesquisa ainda perguntou se os entrevistados consideravam eficientes as medidas dos governos contra a corrupção: 56% dos brasileiros disseram que não; 54% da média mundial também.

“O desprestígio dos partidos e dos políticos é muito grande", disse Alejandro Salas, um dos autores de informe da Transparência Internacional que divulgou o resultado de pesquisa que mostra que 81% dos brasileiros consideram os partidos corruptos ou muito corruptos. A média mundial é de 65%.

“O resultado é triste. Os partidos políticos são pilares da democracia”, disse.

O representante da TI alerta também para a possível aparição e fortalecimento de líderes carismáticos por causa do descrédito dos partidos políticos.

Num país que tem predileção por candidatos temáticos (o caçador de marajás, o operário, a mulher) ou celebridades geralmente despreparadas, realmente corremos o risco de continuarmos elegendo personagens e não alguém capaz de administrar os trilhões que pagamos de impostos.

Na avaliação de Salas, o que tem sido positivo no Brasil é que as pessoas que saíram às ruas para se manifestar fizeram uma ligação direta da corrupção na classe política ao fato de não haver serviços públicos adequados. “As pessoas fizeram a relação direta entre a corrupção e a qualidade de vida que têm”, disse. “Para muitos, o mais dramático é que o Brasil cresceu nos últimos anos. Mas as pessoas perceberam que os benefícios não foram compartilhados e que parte disso ocorreu por conta da corrupção.”

O Congresso tem oportunidade única para dar a volta por cima. A supremacia excessiva do Executivo na vida nacional deixa o Parlamento de joelhos e desvirtua os valores democráticos.

O PT estimulou o eleitor a eleger uma ampla base de apoio e o resultado foi a formação de uma base ajoelhada, que até há poucos dias dizia amém a tudo o que vinha do Palácio do Planalto, no lugar de uma possível base aliada, porém, independente. Com isso, perdeu o respeito e virou o bode expiatório do governo.

A pauta do Senado, entretanto, tem privilegiado as proposições originárias dos próprios parlamentares, que vinham sendo relegadas para atender às determinações da presidência da República.

Que continuem assim e não esmoreçam. Que não desviem a atenção das questões mais importantes nem percam tempo com picuinhas. Que os temas cruciais sejam prioritários, votando o que for do interesse da população e deixando que o Executivo vete e assuma o ônus das decisões que até então conseguia impor ao Congresso.

Isso nao é  golpe, muito pelo contrário, fortalece a Democracia e faz do Congresso a casa do povo. 

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