Denúncias sobre supostas roubalheiras no metrô e trens de SP devem ser investigadas a fundo — tanto para colocar na cadeia os culpados como para não permitir o linchamento dos inocentes
A Folha de S. Paulo informou que a multinacional alemã Siemens admitiu devolver aos cofres do Estado de São Paulo “parte do valor” que teria sido superfaturado no fornecimento de equipamentos de trens e metrô paulistas, durante uma reunião de executivos da empresa com promotores do Ministério Público estadual, na semana passada.
A Siemens, como se sabe, informou ao Conselho de Defesa Econômica do Ministério da Justiça (CADE) — órgão que tem como missão propiciar a livre concorrência entre empresas e barrar a formação de trustes –, sua própria participação num cartel formado para obter vantagens ilícitas em licitações para compra de equipamento ferroviário e para a construção e a manutenção de linhas de trens e metrô em São Paulo e também no Distrito Federal.
O esquema de maracutaias, que podem haver inflado preços em até 20% dos níveis de mercado, teria acontecido entre 1995 e 2003, período em o Estado foi governado pelos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin.
Além da Siemens, a malandragem envolveria também subsidiárias das multinacionais Bombardier (canadense), Alstom (francesa), Mitsui (japonesa) e CAF (espanhola), e as empresas nacionais Serveng-Civilsan, Tejofran, TTrans, MGE, TCBR, Temoinsa e Iesa.
Acho interessante que a Siemens se proponha a devolver “parte” de um dinheiro que, ela própria admite, embolsou ilegalmente. O que conheço em matéria de trocar informação sobre crime por benefícios é a delação premiada — mas ela vale para as pessoas que, ajudando a polícia a investigar, obtêm do Ministério Público e da Justiça a vantagem de diminuição de pena.
De todo modo, a Siemens anunciou que “coopera integralmente com as autoridades”, postura mantida pelas demais empresas.
O governador Geraldo Alckmin, de sua parte, afirmou que os fatos serão investigados “rigorosamente”.
E é absolutamente necessário que sejam. Se houve roubalheira, como parece ser o caso, é preciso que a polícia e o Ministério Público ajam com rigor e rapidez, para descobrir como, quando, e, sobretudo, quem.
Quem tem culpa no cartório?
Secretários ou ex-secretários de Estado?
Os presidentes ou ex-presidentes do Metrô ou da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos?
Ex ou atuais diretores de ambas as estatais?
Covas?
Alckmin?
Os dois?
A ação é importante, adicionalmente, porque, enquanto flutuar no ar a acusação genérica de que houve ladroagem nos governos de Covas e de Alckmin — que podem perfeitamente estar inocentes de tudo isso –, somente os nomes de ambos estará na berlinda.
Covas, morto em 2001, foi um político de integridade indiscutível. Alckmin nunca teve contra si alegações de desonestidade pessoal. Até prova em contrário, são inocentes, até porque a Constituição assim prevê e garante.
Quanto mais as investigações sobre os culpados demorarem, mais serão linchados moralmente.
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