Pontífice condena também tentação do 'funcionalismo paralisante', que reduz a realidade da Igreja à estrutura de uma ONG. Francisco diz que posição do missionário não deve ser de centro, mas de periferias
Francisco fez menção ao diálogo com o mundo atual, pois as alegrias, tristezas e angústias dos homens do nosso tempo são as dos discípulos de Cristo
Deborah Berlinck, O Globo
No discurso para bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), no Centro de Estudos do Sumaré, o Papa Francisco criticou o que chamou de "ideologização" da mensagem evangélica. Isto é, interpretações do Evangelho que podem ir de um extremo ideológico a outro. Isso, que ele chamou de "Igreja tentada" (Igreja da tentação), foi visto por alguns como uma referência velada aos movimentos controversos da Igreja, como o Opus Dei, de extrema-direita, ou a Teologia da Libertação, de extrema-esquerda.
O Papa também falou que a posição do missionário não deve ser de centro, mas sim de periferias e que os bispos, portanto, devem ser pastores, "próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misecordiosos".
- Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como verdades diante do Senhor, quer a pobreza exterior, como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham "psicologia de príncipes". Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra.
Neste momento, o Papa Francisco deixou o discurso de lado e brincou que os pastores têm que lembrar que são casados com a Igreja e que não podem ser polígamos.
Francisco também fez menção ao diálogo com o mundo atual, pois as alegrias, tristezas e angústias dos homens do nosso tempo são as dos discípulos de Cristo:
- A resposta às questões existenciais do homem de hoje, especialmente das novas gerações, atendendo à sua linguagem, entranha uma mudança fecunda que devemos realizar com a ajuda do Evangelho, do Magistério e da Doutrina Social da Igreja. Os cenários e areópagos são os mais variados. Por exemplo, em uma mesma cidade, existem vários imaginários coletivos que configuram “diferentes cidades”. Se continuarmos apenas com os parâmetros da “cultura de sempre”, fundamentalmente uma cultura de base rural, o resultado acabará anulando a força do Espírito Santo.
O Pontífice disse que é necessário que, como pastores, os bispos se interroguem sobre o andamento das Igrejas a quem presidem. E enumerou perguntas a serem feitas. Entre elas:
- Procuramos que o nosso trabalho e o de nossos presbíteros seja mais pastoral que administrativo? - perguntou.
Ele também indagou:
- Temos como critério habitual o discernimento pastoral, servindo-nos dos Conselhos Diocesanos? Tanto estes como os conselhos paroquiais de pastoral e de assuntos econômicos são espaços reais para a participação laical na consulta, organização e planejamento pastoral? O bom funcionamento dos Conselhos é determinante. Acho que estamos muito atrasados nisso.
O Papa listou propostas ideológicas que "aparecem" na América Latina e no Caribe. A primeira da lista foi:
- O reducionismo socializante, que é a ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até a categorização marxista - disse o Papa.
Outra tentação, disse, é a "ideologização psicológica", que, segundo ele, é frequente em cursos de espiritualidade, retiros espirituais e outros do gênero. Ou seja, uma interpretação "elitista, que, em última análise, reduz o encontro com Jesus Cristo e seu sucessivo desenvolvimento a uma dinâmica de autoconhecimento".
Tem ainda, continua o Papa, a "proposta gnóstica". Isto é:
- Grupos de elites com uma proposta de espiritualidade superior, bastante descarnada.
Leia mais em Papa critica 'ideologização' da mensagem do Evangelho em discurso para bispos
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário