Luciano Trigo
A crise que o país atravessa desde a eclosão dos primeiros protestos contra o aumento das passagens de ônibus tem três componentes articulados:
1 — A sociedade quer transporte, saúde e educação de qualidade, pois ela paga caro por isso, por meio dos impostos, e não recebe em troca serviços públicos à altura. Simples assim. A sociedade não pediu nas ruas reforma política, nem plebiscito para eliminar suplente de senador.
2 — A sociedade quer o fim da impunidade, pois está cansada de ver corruptos soltos debochando de quem é honesto, mesmo depois de condenados.
Acrescentar o adjetivo hediondo à corrupção de pouco adianta se deputados e ministros continuam usando aviões da FAB para passear e se criminosos estão soltos, alguns até ocupando cargos de liderança ou participando de comissões no Congresso.
3 — A sociedade quer estabilidade econômica: para a percepção do cidadão comum, os 20 centavos pesaram como mais um sinal de que a economia está saindo do controle.
A percepção do aumento da inflação é crescente em todas as classes sociais; em última análise, este será o fator determinante dos rumos da crise a médio prazo, já que não há discurso ou propaganda que camufle a corrosão do poder de compra das pessoas, sobretudo daquelas recentemente incorporadas à economia formal.
Esses problemas não são de agora, nem responsabilidade exclusiva dos últimos governos. Mas o que se espera de quem está no poder é que compreenda que a melhor maneira de reconquistar o apoio perdido é dar respostas concretas e rápidas às demandas feitas nas ruas (e não a demandas que ninguém fez).
Não é isso que vem acontecendo: todas as ações da classe política parecem movidas pela tentativa de tirar proveito da situação e desenhadas para que tudo continue como está.
Leia a íntegra em Por que é tão difícil entender?
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