quinta-feira, 1 de agosto de 2013

QUAL A NOSSA FALHA?

Newton Lima Azevedo, O Globo

Nos últimos dias, as manifestações que agitam o Brasil têm levado às ruas uma enxurrada de demandas. Segundo analistas políticos e sociólogos, essas manifestações representam um basta e, ao mesmo tempo, a exigência de soluções efetivas, sustentadas na boa gestão dos recursos públicos.

Por atuar há muitos anos no setor de saneamento ambiental, acompanho esse movimento tentando encontrar sinais de indignação da sociedade pelo fato de que, entre outras deficiências do setor de saneamento, 100 milhões de brasileiros não tenham esgoto tratado, e que, em função disso, aproximadamente 9 milhões de m³ de esgoto sem tratamento sejam descarregados diariamente em rios, mananciais e praias, além da contaminação de solos. Tudo isso com impactos diretos e relevantes na saúde da população.

A surpresa surgiu no dia 26 de junho, quando as comunidades da Rocinha e Vidigal marcharam até o Leblon, carregando bandeiras, cartazes e faixas reivindicando saneamento e saúde. Junto disso, declarações muito lúcidas dos organizadores afirmando: “de que adianta colocar teleférico e escada rolante, se temos lugares com esgoto a céu aberto na comunidade?”

Foto: Luís Bulcão / G1

Uma boa pergunta: por que a universalização dos serviços de água e esgoto no Brasil nunca foi prioridade na agenda política do país? Saneamento e saúde, com lembram as comunidades da Rocinha e do Vidigal, andam juntos. Um não vive sem o outro.

Uma resposta, de pronto, é recorrer a antigos raciocínios segundo os quais “obra enterrada não dá voto...”, “prefiro fazer viaduto em vez de obras debaixo da terra...” Mas o setor de saneamento (no qual me incluo) também precisa fazer uma autocrítica e descobrir por que não consegue sensibilizar ou levar aos governos federal, estaduais e municipais propostas objetivas que, seguramente, teriam apoio de todos, fazendo com que percepções como as da comunidades da Rocinha e do Vidigal invadissem o Brasil.

Qual a nossa falha? Como mudar?

Alguns pontos sobre os quais vale a pena pensar:

Necessidade de articulação e coordenação institucional.

Criação de um ente incumbido de vocalizar as demandas do setor, promovendo uma agenda consensual. Ao contrário do que existe hoje com entidades que encaminham os temas estruturantes do setor de forma isolada e não holística.

São mais do que conhecidos os diagnósticos e propostas para determinar um verdadeiro avanço institucional promovendo uma nova fase no saneamento brasileiro.

Faltam aos governos e à iniciativa privada coragem e/ou vontade política para começar a mudar.

As reivindicações das comunidades da Rocinha e do Vidigal precisam ser levadas em conta.
*

Newton Lima Azevedo é representante brasileiro eleito para o Conselho Mundial da Água.

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