A morte de Luiz Gushiken e a falta de pudor
Por Reinaldo Azevedo
Eu lamento a morte de qualquer pessoa, e não seria diferente com o petista Luiz Gushiken. Havia tomado a decisão de não escrever a respeito porque, confesso, acho desconfortável. Ele certamente tinha um círculo de amores e afetos que independiam da política, e é claro que há pessoas sofrendo. Nem o fato de ser um homem público, entendo, elimina certas exigências do decoro.
Mas vejo agora que a companheirada — e aquela gente moralmente miúda que fica se esgoelando na rede — não teve nenhum pudor. Do petista mais graúdo ao mais mixuruca, faltou pouco para que atribuíssem o câncer que acometeu Gushiken ao processo do mensalão. Há mesmo quem fale em implacável perseguição. Os idiotas a soldo estão por aí a acusar a mídia — sempre ela! — de ter “massacrado” Gushiken.
Então cabe a pergunta? De que massacre se está a falar? Por que não demonstram? Onde está? Roberto Gurgel, então procurador-geral da República, pediu a absolvição de Gushiken, alegando falta de provas, com que concordaram os ministros do Supremo. Considerando apenas os autos, se cabe atribuir a alguém o envolvimento do nome de Gushiken na pequena fatia do escândalo que resultou na AP 470, que se procure, então, o senhor Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil. Foi ele quem disse que cumpria ordens de Gushiken. Se os petistas estão em busca de culpados, que busquem entre os seus.
Fundos de pensão
Gushiken só foi preservado, de resto, porque os fundos de pensão, sua área de atuação, ficaram fora do escopo de investigação do mensalão. Tivessem entrado — e há muitos anos escrevo que é neles que está o coração pulsante do poder petista —, talvez a história fosse outra.
Transcrevo um trecho de reportagem do “Valor” (em vermelho):
(…)
Era avesso a entrevistas, mas acabava aparecendo com destaque na mídia como personagem de casos polêmicos. Em meados de 2004, em um dos episódios da batalha travada entre o Opportunity e a Telecom Italia pelo controle da Brasil Telecom, Gushiken acabou sendo atingido por uma investigação feita pela empresa Kroll Associates. O trabalho encomendado pela Brasil Telecom, controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, identificou e-mails de Gushiken, anteriores à posse de Lula, para o ex-sócio do Opportunity, Luiz Roberto Demarco, com quem Dantas travava batalha judicial.
Em um dos e-mails, Gushiken oferecia a Demarco ajuda na obtenção de aliados dentro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que o ajudassem na disputa contra Dantas. Na época o ministro confirmou o envio de duas mensagens a Demarco, em 2000 e em 2001, mas negou a existência de irregularidades.
Defensor do polêmico projeto propondo a criação do Conselho Federal de Jornalismo, acabou sendo taxado de autoritário por setores contrários à proposta e chegou a declarar, em resposta aos críticos do projeto, que a imprensa livre não era um valor absoluto.
(…)
(…)
Era avesso a entrevistas, mas acabava aparecendo com destaque na mídia como personagem de casos polêmicos. Em meados de 2004, em um dos episódios da batalha travada entre o Opportunity e a Telecom Italia pelo controle da Brasil Telecom, Gushiken acabou sendo atingido por uma investigação feita pela empresa Kroll Associates. O trabalho encomendado pela Brasil Telecom, controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, identificou e-mails de Gushiken, anteriores à posse de Lula, para o ex-sócio do Opportunity, Luiz Roberto Demarco, com quem Dantas travava batalha judicial.
Em um dos e-mails, Gushiken oferecia a Demarco ajuda na obtenção de aliados dentro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que o ajudassem na disputa contra Dantas. Na época o ministro confirmou o envio de duas mensagens a Demarco, em 2000 e em 2001, mas negou a existência de irregularidades.
Defensor do polêmico projeto propondo a criação do Conselho Federal de Jornalismo, acabou sendo taxado de autoritário por setores contrários à proposta e chegou a declarar, em resposta aos críticos do projeto, que a imprensa livre não era um valor absoluto.
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Volto
Os petistas e seus asseclas — inclusive alguns, digamos, “jornalistas” que o combateram severamente por conta de seu confronto com Daniel Dantas e que hoje se tornaram governista$ fanático$ — tentam, de modo asqueroso, usar a morte de Gushiken para fazer proselitismo em favor dos mensaleiros. Isso, sim, é desrespeitar a memória do morto e do aliado. O senador Eduardo Suplicy (SP), no velório, não teve dúvida:
“Eu acho que inevitavelmente todo esse processo [do mensalão] certamente contribuiu para enfraquecê-lo e diminuir a resistência dele. O câncer se espalhou pelo corpo e ele retirou diversos órgãos e fez inúmeras cirurgias. Então, o sofrimento por causa desse processo acabou penalizando bastante a ele próprio. Mas acho que foi muito importante para ele e para a família saber que ele foi inocentado”.
Como Suplicy não tem mesmo limites, aproveitou para fazer um pouco de política partidária também:
“Ele falava assim muito baixinho, mas estava inteiramente consciente e disse uma coisa do ponto de vista, assim, para mim importante. Como está para ser decidido quem vai ser o candidato ao senado pelo PT ele me disse assim: você é uma pessoa muito boa e o PT não pode abrir mão de que você seja o candidato ao Senado. E eu o cumprimentei pela maneira como agiu e o exemplo que ele foi para todos nós, exemplo de valores”.
Falou, acreditem, sem se sentir envergonhado. Verdade ou mentira, uma coisa é certa: não há como ser desmentido pelo interlocutor.
Que Gushiken descanse em paz! Os petistas deveriam ter um pouco de pudor, evitando usar a sua morte para fazer proselitismo vulgar.
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