Amigos de rapaz preso, acusado de agressão covarde a coronel da PM, transformam a vítima em algoz
Por Reinaldo Azevedo
Não fossem certas ideias mais perigosas do que algumas doenças, eu tenderia a achar que há um estranho vírus por aí. O principal efeito de sua toxina é diluir os argumentos racionais e lógicos e a coerência. Por quê? Vocês se lembram da agressão covarde ao coronel Reynaldo Simões Rossi. Há um preso em flagrante. Chama-se Paulo Henrique Santiago. Tem 22 anos e estuda Relações Internacionais na faculdade Santa Marcelina.
Muito bem. Um grupo de estudantes resolveu divulgar uma carta de apoio ao colega, leio na Folha. Sustentam que Santiago não pertence ao Movimento Passe Livre nem é adepto dos black blocs. Seus amigos afirmam ainda que “ele não é um homicida e não participa de quadrilha que objetiva matar policiais”.
O fato, reitero, é que ele foi preso no local, em flagrante. Que se apure tudo para saber se é um dos culpados. Seus amigos, no entanto, precisam tomar mais cuidado. Como advogados de defesa, podem se transformar em testemunhas da acusação. Na tal carta, resolveram fazer algumas especulações sociológicas:
“(…) é preciso questionar por que tantos jovens, provenientes de diversas experiências, lugares e estratos sociais estão cada vez mais se dispondo a enfrentar a polícia em manifestações”.
Como? Digamos que isso rendesse um bom debate…
Estou enganado, ou se lê acima uma espécie de justificação da violência, tentando transformar a vítima em culpada pelo mal que a atingiu?
Estou enganado, ou uma cena covarde, de tentativa de linchamento, está recebendo uma espécie de endosso ou, no mínimo, de condescendência? Não fosse a intervenção de um policial do Serviço Reservado, o coronel poderia ter sido assassinado ali.
No mesmo texto, há esta outra joia:
“Os moderados falam em negociação. Mas pergunta-se: Como se negocia quando uma das partes possui uma arma, mais ou menos letal? Como qualquer pessoa que não tenha sangue de barata ficaria diante de pessoas sendo espancadas, chutadas?”
“Os moderados falam em negociação. Mas pergunta-se: Como se negocia quando uma das partes possui uma arma, mais ou menos letal? Como qualquer pessoa que não tenha sangue de barata ficaria diante de pessoas sendo espancadas, chutadas?”
É uma boa pergunta. O único espancado, no caso em questão, foi o coronel. O único chutado, no caso em questão, foi o coronel. Os signatários da carta discordam, então, da moderação e da negociação? Talvez o militar tenha apanhado por isto: ele é considerado um bom “negociador” e um “moderado”, um grande pecado nestes dias.
Quanto às armas… Esses estudantes já ouviram falar que, nas democracias, a alguns se concede o uso legítimo da força? E não é aos arruaceiros… Armados, já são linchados. Imaginem se vão às ruas apenas com argumentos.
Santiago não precisa de inimigos. Ele já tem os amigos.
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